No cinema, ela era a única. Era chamada de “A Rainha do Technicolor”, pois com seu cabelo ruivo e lindos olhos verdes brilhavam como o de ninguém mais no colorido perfeito que teve o auge nos anos 50. Era a parceira preferida dos grandes machos do cinema, John Wayne e o diretor John Ford. Sempre passou a imagem de mulher forte, mesmo que na vida real tenha deixado que alguns de seus maridos a dominassem de uma maneira hoje praticamente inaceitável para a maioria (segundo sua autobiografia,Tis Herself). E envelheceu com dignidade, passando para os papéis de mãe e avó, sempre linda, sempre classuda. Maureen O’Hara, que faleceu neste sábado(24) aos 95 anos, nunca recebeu sequer uma indicação ao Oscar, mas no ano passado a Academia finalmente reconheceu seu talento e a premiou com um troféu especial. Para se ter uma ideia de seu poder sobre todos os fãs de cinema, na ocasião, o grande nome do cinema de animação japonês,Hayao Miyazaki, que também estava sendo premiado, disse que sua “grande sorte” era ter conseguido conhecer a atriz.
Maureen O’Hara, nascida na Irlanda, teve seu primeiro grande papel de destaque no cinema num filme menos conhecido de Alfred Hitchcock, A Estalagem Maldita (1939), o último que ele fez na Inglaterra antes de se mudar para os Estados Unidos. Ela atuou ao lado de Charles Laughton, que foi quem a descobriu no teatro e insistiu para que ela fosse escolhida para o filme. Logo depois, Maureen se mudou para os Estados Unidos, e fez um clássico atrás do outro como, por exemplo, O Corcunda de Notre Dame (1940) e Como era Verde o Meu Vale (1941). Mas os filmes pelos quais ela é mais lembrada, e que também são os meus favoritos, são De Ilusão também se Vive (1947) e Depois do Vendaval (1952).
De Ilusão também se Vive é, ao lado de A Felicidade não se Compra (1946), o filme que vi que mais reflete o espírito de Natal nos cinemas. Nos Estados Unidos, é exibido na TV todos os anos. As cenas entre Maureen e Natalie Wood, que fazia sua filha, são de uma delicadeza inigualável. Se não viu, recomendo. Será impossível não se emocionar. Já Depois do Vendaval (1952) ficou mais conhecido das novas gerações por ter sido homenageado por Steven Spielberg em ET- o Extraterrestre, mais especificamente a cena entre Maureen e John Wayne (em seu segundo filme juntos) se beijando no meio da tempestade. Este filme está na minha lista dos melhores de todos os tempos, e a química entre Maureen e Wayne é simplesmente inigualável.
Mas é claro, também tiveram os filmes nem tão artísticos, mas que eram grandes diversões da época das matinês, O Cisne Negro(1942), O Pirata dos Sete Mares (1945), Simbad, o Marujo (1947), Os Filhos dos Mosqueteiros ((1952), A Rainha dos Renegados (1953) e tantos outros. Seus filmes com Wayne são uma atração a parte. Nenhuma atriz parecia tão a vontade “no meio dos rapazes” em filmes como Rio Bravo (1950), Asas de Águias (1957), Quando um Homem É Homem (1963) e Jake Grandão (1971). Eles foram grandes amigos na vida real até o fim da vida dele.
Em 1973, Maureen se aposentou, mas voltou algumas vezes para papéis no cinema e na TV. O mais famoso foi em 1991, na comédia de John Candy, Mamãe não quer que eu Case, onde era possível ver que ela continuava com um incrível talento para a comédia. Já sua última participação aconteceu em 2000, no telefilme The Last Dance.
Na conclusão de sua autobiografia, lançada em 2004, Tis Herself, ela termina dizendo o seguinte: “Eu vivi intensamente.Eu defendi os princípios que significavam muito para mim, e lutava por eles quando era necessário, geralmente fazendo isso sozinha. Sou obstinada dessa maneira. Mas sempre tentei enfrentar o fogo com bravura, honra e honestidade. Mais do que tudo,tenho orgulho de dizer que nunca murchei ou me acovardei quando mais importava.”
Não podia esperar menos da Rainha dos Piratas. Obrigada, Maureen O’Hara!
alfie
25 de outubro de 2015 às 2:12 pm
Valeu, Eliana. Uma bela homenagem, emocionante. Especialmente na transcrição das palavras de Maureen O´Hara.
alfie
25 de outubro de 2015 às 2:12 pm
Digitei errado teu nome, sorry.