Quentin Tarantino esteve no Brasil no ano passado para promover Os Oito Odiados e deixou claro mais uma vez seu amor pelo cinema e pelo faroeste. Este é o gênero de seu filme que eu mais admiro (e gosto) do diretor, Django Livre. Ele volta ao tema no badalado Os Oito Odiados, que estreia hoje (7) nos cinemas. E mais uma vez prova que sabe fazer as coisas…
A ação do filme se passa seis ou oito ou doze anos depois do final da Guerra Civil Americana. A primeira cena, já grandiosa, acompanha uma diligência que se desloca a toda velocidade pelo meio da neve. Os passageiros – o caçador de recompensas John Ruth (Kurt Russell) e a fugitiva Daisy Domergue (Jennifer Jason Leigh, fantástica) – estão a caminho da cidade de Red Rock onde Ruth, conhecido na região por O Carrasco, levará Domergue para a justiça. Ao longo da estrada, eles encontram dois forasteiros: o Major Marquis Warren (Samuel L. Jackson), um ex-soldado que se tornou um caçador de recompensas, e Chris Mannix (Walton Goggins, de Justified), um sulista renegado que diz ser o mais novo xerife da cidade.
Só que uma nevasca está chegando, então Ruth, Domergue, Warren e Mannix buscam refúgio no Armazém da Minnie, uma parada de diligências situada entre montanhas. Quando chegam ao local, são recebidos não pela proprietária Minnie, mas por quatro rostos desconhecidos. Bob (Demián Bichir), que está tomando conta do armazém enquanto Minnie visita a mãe, na companhia de Oswaldo Mobray (Tim Roth), o enforcador de Red Rock, o vaqueiro Joe Gage (Michael Madsen), e o general confederado Sanford Smithers (Bruce Dern). À medida que a tempestade vai ganhando força sobre as montanhas, as histórias de todos eles vão se revelando numa narrativa onde definitivamente não há mocinhos…
As três horas de duração não incomodam. É claro que tem uma “barriguinha” aqui, outra ali, mas nada que estrague o ritmo do filme. Tem sim muito sangue, muita violência, então esteja preparado para isso. É claro que quem conhece o trabalho de Tarantino sabe que isso é natural para ele. É interessante, no entanto, que ao contrário de outros diretores, a forma que ele filma é tão cinematográfica, que realmente não me incomodou.
Muito se falou sobre Os Oito Odiados desde que foi anunciado como um projeto de Tarantino. O primeiro roteiro acabou caindo na internet, Tarantino desistiu de fazer, Samuel L. Jackson o convenceu a retomar, várias atrizes foram testadas (houve inclusive uma conversa com Jennifer Lawrence). Depois, Tarantino resolveu exibir o filme em 70 milímetros para “melhorar a experiência” e o filme foi lançado em alguns cinemas do mundo em sessões especiais – no Brasil não houve essa possibilidade. E agora, depois do lançamento num circuito reduzido nos Estados Unidos para torna-lo elegível para o Oscar, muita gente falou que ele incitava a violência contra a mulher (que eu acho uma afirmação absurda). Tarantino também chegou a falar mal de Star Wars por causa da concorrência desleal. E que fez que seu fim de semana de estreia fosse o pior de sua carreira desde Jackie Brown. Ufa!
Ele realmente tem muita energia. Mas é um diretor (e roteirista) incrível. Vale acompanhar essa história e todas as suas reviravoltas (especialmente uma quase perto do final – sem spoilers aqui). Ele pode não ter muitas chances no Oscar ou no Globo de Ouro (talvez somente a incrível atuação de Jennifer Jason Leigh – e as pessoas ainda falam da sem sal Rooney Mara…). Mas fez um filmaço!