Não se deve confundir este com o delicioso filme Chocolate, dirigido por Lasse Halstron e estrelado por Juliette Binoche e Johnny Depp. Esse é igualmente bom, mas muito mais dramático. O Chocolate do título não é de comer como no anterior, e sim o apelido de um palhaço que realmente existiu na França. Sua história chega agora aos cinemas brasileiros depois de ter feito grande sucesso no último Festival Varilux. Não me surpreende, porque ele é muito bom!
Inspirado no livro do historiador francês Gérad Noiriel, Chocolate conta a história de um escravo que, na Paris do século 19, se torna um famoso artista de circo. Ao formar dupla com Footit, um artista branco, ele se transformou em um dos personagens mais populares da cena parisiense durante mais de 20 anos.
No papel principal está Omar Sy, ator francês que ficou conhecido no mundo inteiro após o enorme sucesso de Intocáveis. Depois disso, ele fez vários filmes inclusive no cinema americano, como Jurassic World e X-Men: Dias de um Futuro Esquecido. Estará também em Inferno, a adaptação do livro de Dan Brown. Mas é claro que é na França, onde é astro de bilheteria, que consegue seus melhores papéis. É o caso de Chocolate. Sy se preparou durante quatro semanas ensaiando com profissionais circenses para aprender as particularidades, a mecânica, o ritmo e os movimentos de um palhaço. “A história de Chocolate me tocou. Nascer escravo, fugir e se tornar um artista é um percurso inacreditável. Imagina a dose de coragem e trabalho que ele precisou ter para chegar lá.”
Já o diretor Roschdy Zem, que esteve no Brasil para o festival Varilux, disse na época que “Chocolate conta a história de uma dupla que se encontra, cria junto e que a vida separa. Mas conta também a história da emancipação de um homem – Chocolate – que descobre a vida, se torna um adulto, conhece a maturidade e também certa amargura. O filme também conta a história da França. Sem apontar culpados nem fazer acusações. Chocolate marcou a sua época e foi esquecido. Ele não foi o único, e contar a sua história nos permite conhecer melhor o nosso passado. Sempre achei que conhecer o passado é essencial para compreender o presente”.
Outra grande interpretação do filme é a do ator suíço James Thierrée (Footit), que é ninguém menos do que neto de Charles Chaplin (veja como são parecidos), e também dançarino acrobata e músico. Tal avô, tal neto! Fiquei realmente impressionada com ele, já que não conhecia, ou na verdade nunca tinha reparado em seu trabalho. Seu nervosismo contido, além da admiração por Chocolate são um dos pontos altos do filme.
Outro é a recriação de época, com uma fotografia lindíssima. O filme foi todo rodado em Paris. A produção começou seis meses antes e foram feitas inúmeras pesquisas em documentos, quadros e filmes antigos para a escolha de cores, tecidos e vestuário na tentativa de recriar a atmosfera da capital francesa do século 19. Tudo muito bonito, mas ao mesmo tempo que trata de um assunto sério, da decadência de um homem enquanto é vencido por uma sociedade e por seus próprios demônios. E por isso mesmo, imperdível!