É sempre difícil escrever um texto em homenagem a um ator que foi tão presente durante a infância e a adolescência. Parece que é alguém da família. Gene Wilder, um dos maiores nomes da comédia, ator, diretor, roteirista, faleceu aos 83 anos. Pode ser que muita gente não o conheça e não tenha a menor ideia sobre como seu talento era especial, afinal ele já estava afastado do cinema há muito tempo. Mas para todos nós que crescemos adorando e rindo muito com seus filmes, é uma perda sentida e irreparável. Difícil até escrever sobre ele.
Mas vamos lá. Filho de imigrantes russos, Gene começou no teatro, e foi muito elogiado em todas as peças que participou. Em uma delas, Mother Courage and her children, conheceu alguém que mudaria sua vida. A atriz Anne Bancroft o apresentou a seu marido , o produtor Mel Brooks e daí a história se fez. Os dois firmaram uma parceria que rendeu alguns dos momentos mais inesquecíveis e divertidos da história do cinema. A primeira delas foi em Primavera para Hitler, ao lado de Zero Mostel, e que anos mais tarde viraria o musical Os Produtores, com Nathan Lane e Matthew Broderick. Com esse filme, com seu primeiro papel de destaque no cinema, teve uma indicação para o Oscar de melhor ator coadjuvante em 1967 . Foi a única que teve como ator, infelizmente.
Mas quem precisa de prêmios, quando logo em seguida você tem a chance de ficar para sempre no coração de milhões de crianças como eu? Em 1971, ele se tornou o inesquecível Willy Wonka em A Fantástica Fabrica de Chocolate. Surpreendentemente, o filme não foi um grande sucesso de bilheteria quando estreou nos cinemas, mas depois com as exibições em home vídeo e na TV acabou atingindo o status de grande clássico infantil que mantém até hoje. Segundo Mel Stuart, o diretor, ele sabia que Gene seria o perfeito Wonka assim que Gene entrou para fazer o teste, apesar de que outras opções quase chegaram a se materializar, como Joel Grey, Ron Moody (que recusou) e Jon Pertwee, que não pode aceitar por causa dos compromissos com Dr. Who. Mas é só olhar para o número abaixo (o meu favorito do filme) que se pode ter a certeza que ninguém poderia ser melhor que Gene no papel.
Logo Gene se juntou a outro gênio da comédia, Woody Allen, em Tudo o que você queria saber sobre o sexo e tinha medo de perguntar (1972) no episódio sobre um médico que é apaixonado por uma ovelha. Sim , é estranho como parece, mas Gene está ótimo. Aliás, ele disse na época, que “era como se você estivesse no set de um filme de Bergman. As pessoas sussurravam, Woody sempre com um olhar sério. Ele se comunica através do silêncio”.
Depois do hilariante Banzé no Oeste, sob a direção de Mel Brooks, Gene fez a raposa da versão para o cinema de O Pequeno Príncipe. Mas em seguida, viria o melhor e mais divertido dos filmes da dupla Gene/Mel: O Jovem Frankenstein (1974). É sempre mencionado nas listas de melhores comédias da história e o próprio Gene o cita como seu favorito entre todos que fez em sua carreira. Concordo! Afinal, “poderia ser pior, poderia estar chovendo!”.Rs, só uma piadinha para os fãs!
Gene teve sua primeira experiência na direção com O Irmão mais Esperto de Sherlock Holmes, com vários dos atores de Frankenstein. Mas logo já estava em outra comédia que lembro que adorava quando menina, O Expresso de Chicago, o primeiro de seus filmes com Richard Pryor (os outros três foram Loucos de Dar Nó, Um Sem Juízo, Outro sem Razão, e Cegos, Surdos e Loucos). Era uma homenagem aos filmes de Hitchcock, e o diretor era Arthur Hiller, que também faleceu este mês.
Depois de dirigir e atuar em O Maior Amante do Mundo, Gene se juntou a Harrison Ford (logo depois do sucesso de Guerra nas Estrelas) para O Rabino e o Pistoleiro. Ele estava hilário como um rabino que tem que passar pelo velho oeste enquanto tenta a chegar a San Francisco para assumir uma sinagoga.
Hanky Panky – Uma Dupla em Apuros (1982) foi inicialmente concebido como mais um filme para ser estrelado por Gene e Richard Pryor, mas como o último não podia na época, o personagem foi transformado em mulher e entregue para a comediante do Saturday Night Live, Gilda Radner, que era casada na época. Só que, aparentemente, a amizade que começou ali foi suficiente para que dois anos depois os dois se casassem. Eles fizeram outros dois filmes juntos, A Dama de Vermelho e Lua de Mel Assombrada e ficaram juntos até ela falecer de câncer no ovário, em 1989.
A Dama de Vermelho (1984) foi um dos maiores sucessos da carreira de Gene e com certeza a sua maior bilheteria como diretor. A cena em que ele observa a lindíssima Kelly LeBrock se “divertindo” com um duto de ar, era a favorita dos garotos da época.
Depois da morte de Gilda, ele ainda estrelou As Coisas Engraçadas do Amor, mas parecia que alguma coisa já não estava mais lá. O filme foi dirigido por Leonad Nimoy, mas foi um grande fracasso de bilheteria. Depois de Cegos, Surdos e Loucos, ele não fez mais filmes. Foi também o último de Richard Pryor, que morreria algum tempo depois. Sobre a parceria, Gene costumava dizer, ” ao contrário do que muita gente pensa, nós nunca fomos grandes amigos. Simplesmente acontecia um clique quando a câmera começava a rodar e depois nós desligávamos. Ele era uma pessoa bem desagradável de estar por perto durante o tempo em que trabalhamos juntos. Ele estava enfrentando seu problema com drogas e não queria uma amizade além do que fazíamos para as telas.”
Gene ainda estrelou uma série chamada Something Wilder, que eu nunca vi, e só durou uma temporada. Fez também uma participação em Will & Grace, pelo qual ganhou um Emmy de ator convidado. Com certeza, a cerimônia deste ano deverá ter uma homenagem a ele. Mais, muito mais do que merecida. Obrigada por tudo, Gene!