A gente nunca vai saber com certeza qual a verdadeira história desses personagens da vida real ditos como “traidores do povo americano”, Julian Assange, do WikiLeaks, e Edward Snowden, que contou para o mundo inteiro que o governo americano espionava…o mundo inteiro. Assange já ganhou um filme, O Quinto Poder, estrelado por Benedict Cumberbatch, que foi um fracasso completo. Agora é a vez de Snowden, com a grife do diretor Oliver Stone, que chega aos cinemas com Snowden: Herói ou Traidor, um subtítulo renegado pelo próprio diretor.
Afinal, do ponto de vista de Stone, Snowden é um herói. Ele é assim apresentado desde a primeira cena, quando o mostra durante a guerra, de onde acabou dispensado por um problema físico. Ele é também apontado como um gênio, pois mesmo sem uma educação superior, é capaz de resolver problemas com uma facilidade que impressiona o diretor da CIA, Corbin O’Brien (Rhys Ifans, assustador), que o transforma em seu pupilo, e o ajuda em sua carreira. Só que conforme o tempo vai passando, Snowden vai descobrindo algumas coisas que passam a mexer com a sua ideia de que o país é perfeito – longe disso, conforme pudemos perceber essa semana.
É quando ele decide transformar sua vida, deixando um bom salário e a namorada por quem é apaixonado (Shailene Woodley, surpreendentemente a mais fraca do elenco). De posse de todos os dados, ele resolve contar sua história para jornalistas ingleses, e para a documentarista Laura Poitras (Melissa Leo), cujo trabalho posteriormente resultou no documentário Citizenfour, sobre os efeitos do ato de Snowden, que inclusive ganhou o Oscar.
https://www.youtube.com/watch?v=0105x3llAcA
A história é baseada em dois livros The Snowden Files: The Inside Story of the World’s Most Wanted Man, de Luke Harding, e Time of the Octopus, de Anatoly Kucherena. É um projeto sob medida para Stone, com todas as suas teorias conspiratórias. Se você vai acreditar na história do filme em todos os seus detalhes, vai depender muito de sua posição política. Do ponto de vista cinematográfico, o filme é bom. Com pouco mais de duas horas não é cansativo, mesmo com a quantidade enorme de diálogos necessários para explicar e dar um panorama geral da trama. Por mais críticas que alguém possa ter às posições políticas de Stone, ele é um grande diretor. E está em grande forma aqui, com uma câmera ágil, e uma edição que torna entendível para leigos todos os meandros técnicos da história. Chega a mostrar personagens reais que foram espionados, como Angela Merkel e Dilma Roussef, além de empresas, como a Petrobrás.
O elenco, é claro, é uma atração à parte. Além daqueles que já mencionei, também há participações de Zachary Quinto e Tom Wilkinson como os jornalistas, Joely Richardson como a editora, Timothy Olyphant e Scott Eastwood como agentes, e até Nicolas Cage numa participação especial. Mas o grande destaque para mim, é Joseph Gordon-Levitt. É incrível como ele tem uma capacidade de mudar completamente em cada papel que faz. Voz, modo de andar, trejeitos, tudo é perfeito. Há momentos que ele está tão parecido com o verdadeiro Snowden, que é assustador.
Aliás, o próprio aparece no final do filme em sua casa em Moscou. A imagem é melancólica, o que reforça a posição de herói enfatizada por Oliver Stone , um homem que resolveu abandonar tudo para que o mundo soubesse o que estava acontecendo. E, como sempre, não adiantou grande coisa. Afinal, as pessoas já demonstraram que só querem ouvir aquilo desejam. Mesmo nos cinemas, a história de Snowden acabou sendo um fracasso. Estreou nos Estados Unidos em setembro e rendeu somente 21 milhões, praticamente metade de seu custo.