A eleição para presidente dos Estados Unidos chocou muita gente. Mas para quem conhece um pouco da história do pais, não deveria ser uma surpresa. Até porque a força do preconceito de boa parte da população é algo presente desde que o país se formou, e que pode ser visto especialmente nos diversos filmes já produzidos sobre a época da Guerra da Secessão, aquela onde o norte e o sul do país lutaram por ideais diferentes. Esse é também o momento abordado no filme Um Estado de Liberdade, que estreou esta semana no cinema.
Matthew McConaughey faz um personagem que realmente existiu, Newton Knight. Ele começa como um enfermeiro no meio da guerra. Só que após a perda de uma pessoa próxima, resolve desertar e fugir para a casa no meio do campo onde está a sua família. Entretanto, ao defender suas vizinhas, ele acaba atraindo a atenção de militares, e tem que escapar para o pântano, onde se esconde junto a um grupo de escravos também em fuga. Com o tempo, Newt vai criando uma comunidade, que luta contra exércitos, corrupção e o preconceito. Paralelamente a essa história onde a vitória é impossível, o filme apresenta também um acontecimento na vida de um de seus descendentes. E comprova que mesmo cem anos depois, as coisas mudaram muito pouco no interior do sul dos Estados Unidos.
A história forte e em boa parte das vezes revoltante, resultou num filme de altos e baixos. Talvez ficasse melhor numa minissérie onde outros personagens além de Newt pudessem ser mais desenvolvidos. Mas, de qualquer maneira, a mensagem/denúncia sobre a forma de pensar das pessoas e do ódio interno contra aquele que é diferente, continua mais atual do que nunca.
No elenco, todos estão bem. Matthew McConaughey dá uma energia fora do comum ao personagem principal. Mahershala Ali imprime uma dignidade sempre presente em suas atuações como o escravo que se torna conselheiro. O elenco ainda tem Gugu MBatha-Raw e Keri Russell, ambas ótimas como as duas mulheres da vida de Newt.
Obviamente, já que toca numa ferida mal resolvida da história, Um Estado de Liberdade foi um fracasso nas bilheterias dos Estados Unidos. E comprova que mais de 150 anos depois, a luta de Newt e sua família ainda incomoda.