Eu demorei um pouco para ver 13 Reasons Why, a série da Netflix que vem dando o que falar. E quando a vi, preferi ver um episódio por dia, ao contrário do que normalmente faço nesses casos, quando vejo uns quatro de uma vez. A história é pesada, injusta, triste e atual. E, como todo o mundo um dia sofreu bullying na vida, tem um apelo especial para cada um de nós. Na época em que estava na escola, não havia celular e computador, então a situação era mais contida em pequenos grupos. Mas, como sempre fui a mais nova (entrei um ano antes de todo mundo), posso dizer que sofri bastante. Nada que me fizesse querer me matar, mas com certeza o suficiente para ficar bastante revoltada com uns e outros durante muito tempo. E algumas lembranças nunca vão embora, ficam para sempre com você. Para o melhor e para o pior.
A série de 13 episódios, disponível na Netflix, é baseada em um livro best-seller disponível no Brasil, com o título de Os 13 Porquês. Conta a história de Clay (Dylan Minnette), que recebe em casa uma caixa contendo fitas cassetes com gravações de Hannah Baker (Katherine Langford), sua amiga e grande amor, que cometeu suicídio duas semanas antes. Nelas, Hannah faz uma espécie de diário com as razões que a levaram a tomar a atitude. A série segue então os caminhos paralelos do passado e do presente, sobre como Clay e os outros estudantes mencionados nas fitas reagem após saber do conteúdo da caixa.
https://www.youtube.com/watch?v=nHdoAaLiU2E
Não há soluções fáceis. Hannah não é uma heroína, também tem defeitos como qualquer um. Mas você acompanha todas as histórias que a levaram a tomar a atitude de se matar percebendo como hoje em dia todo mundo está muito mais preocupado com seu próprio umbigo, em levar vantagem, em se afastar de quem não vai lhe render alguma coisa, e principalmente tirar a culpa de suas próprias costas. Uma das poucas coisas que me incomodou na série foi justamente o papel de Clay nessa história. Durante a primeira metade, os demais envolvidos, preocupados com as atitudes de Clay, sempre se referiam ao fato de que “ele ainda não chegou na fita dele”. Só que quando finalmente sabemos o que Clay fez (ou não) é como se fosse um anti-climax.
Mas obviamente isso não chega a estragar a mensagem poderosa da série. Há pouco tempo, li que ela tinha provocado maior procura aos serviços de ajuda, como o CVV, que citou um aumento de 445 % nos números de emails, e ainda 170% de aumento de visitas ao site. Essas são informações que vão contra uma linha de psicólogos que diz que a série romantiza o suicídio, e que a cena propriamente dita é muito detalhada, o que vai contra as recomendações médicas. Bem, não sou especialista, mas posso me dizer que a referida cena me chocou bastante. E creio que deve chocar também muita gente!
O elenco é ótimo. Acompanho a carreira de Dylan Minnette desde que ele era um garotinho. Sempre foi muito bom (é até estranho ver sua voz grossa aqui na série). Ele faz um Clay intenso, que carrega uma culpa de não ter feito tudo o que podia por sua amiga/amor. Mas, ao mesmo tempo, tem aquele receio adolescente de fazer algo que pode ocasionar um momento ridículo (algo como levar um não de Hannah). Está perfeito! Mas realmente quem mais me emocionou foi Kate Walsh, de Grey’s Anatomy, como a mãe de Hannah. Ela foi a responsável por o único momento na série que me fez chorar. Se não levar um Emmy, será uma grande injustiça.
No final, o que fica da série é uma sensação de vazio. Aquilo que sempre me incomoda, o “E se…”. E se as pessoas tivessem conversado mais, e se tivessem dito o que realmente sentiam, e se não quisessem ” levar vantagem em tudo, certo?”. O certo é que 13 Reasons Why vai fazer você parar pensar, recomendo especialmente para quem tem filhos adolescentes. Seria um bom (e importante) momento para ver uma série juntos. Mas sem ser como a mãe de Clay, tá?