Com certeza, você nunca viu um filme brasileiro como Soundtrack. Desde o título diferente, o pôster em preto e branco e a história inesperada, você pode gostar ou não do filme, ou de alguns aspectos dele. Mas, com certeza, não ficará indiferente. Soundtrack, estrelado por Selton Mello e Seu Jorge, que estreou hoje nos cinemas, vale ser conhecido pelo inusitado de sua proposta. E no meio do caminho é bem provável que você fique bem impressionado, como eu fiquei.
Tudo começa com a chegada de Cris, um fotógrafo brasileiro, que chega a uma estação científica polar. Seu objetivo de criar seu projeto artístico diferenciado no local, realizar selfies para uma exposição de arte. Sua ideia é reproduzir em imagens as sensações causadas pelas músicas de uma playlist selecionada para a experiência. A princípio, os cientistas de várias nacionalidades que trabalham no local, se ressentem do tempo e espaço que ele toma. Mas aos poucos, todos vão conhecendo um pouco a mais do trabalho e da vida um do outro, e como aquele lugar tão frio, distante, e perigoso, pode contribuir para uma nova amizade.
Um dos grandes destaques entre os aspectos técnicos é o fato do filme ter sido rodado em estúdio no Rio de Janeiro. A sensação de amplitude, frio e abandono que acompanha todos os personagens do filme é uma constante, e em momento algum, as externas me fizeram acreditar que tudo se passava dentro de um estúdio. Ponto para o filme e para seus diretores, que se denominam 300ml, inclusive nos créditos do filme, mas que atendem pelos nomes de Manitou Felipe e Bernardo Dutra. Aliás, os dois já haviam feito um curta-metragem com Selton e Seu Jorge chamado Tarantino’s Mind (disponível no YouTube), onde os dois discutiam a obra do diretor americano.
Um outro diferencial é que o filme é praticamente todo falado em inglês, com a exceção de alguns diálogos entre Selton e Seu Jorge (ótimo). É bem provável que essa decisão ajude a carreira do filme internacionalmente. O fato da história não ter uma nacionalidade, ou seja, poder ter sido feita em qualquer país do mundo, também aumenta seu apelo fora daqui. Afinal, é claro que o filme tem um ou outro porém, especialmente a razão da atitude de Cris no final, mas, no geral, o filme mantém a atenção e o clima durante todo o tempo. Mas é preciso deixar claro que não é um filme para todos os públicos. É intimista, denso e até triste, portanto, se essa não é a sua praia…
Apesar de Selton ser o ator principal e sempre uma presença magnética e forte, o grande destaque do filme é o ator Ralph Ineson, que já foi visto em Game of Thrones e no filme A Bruxa. Como “antagonista”, se é que seu personagem, Mark, pode ser chamado assim, você não consegue tirar os olhos dele. Muito bom!
Eu conversei com Selton – uma simpatia – sobre o filme esta semana em São Paulo. A entrevista está aqui e também será exibida no programa Show Vip, no canal Climatempo. Dê uma olhadinha: