Quem tem mais de 30 anos já deve ter ouvido falar do palhaço Bozo. E quem tem mais de 40, provavelmente deve ter visto o seu programa infantil, que era exibido nos anos 80/90 no SBT, na época TVS. Bozo era um sucesso tão grande que chegou a ficar em primeiro lugar em audiência, na frente da TV Globo. Em uma época em que a internet nem existia, era um enorme feito. Bingo: O Rei das Manhãs, que estreia esta semana nos cinemas, é uma produção nacional que conta a história de um intérprete de Bozo, que aqui virou Bingo por causa de direitos autorais.
Esse ator era Arlindo Barreto, filho da atriz Marcia de Windsor, que já tinha feito vários filmes eróticos quando conseguiu a chance de se tornar esse famoso palhaço, um personagem que foi importado dos Estados Unidos, onde também era um grande sucesso. O filme conta a sua história, mudando a maioria dos nomes de pessoas, muitas que ainda andam por aí. Gretchen, sim, a cantora e rainha dos memes, é uma exceção. Ela é ela mesma, muito bem interpretada por Emanuelle Araújo, com direito até Conga Conga Conga. O resto foi todo mudado, até os nomes das emissoras foram mudados. A TV Globo, por exemplo, virou Mundial. É bem divertido tentar lembrar e identificar certos personagens que fazem parte da história da TV brasileira.
No filme, a jornada de Arlindo, que aqui se chama Augusto, tinha realmente todos os ingredientes para virar um bom filme. Obviamente talentoso, mestre do improviso, ele conseguiu imprimir o politicamente incorreto no palhaço, que acabou resultando num enorme sucesso. Só que como em boa parte dos casos, Arlindo também era atraído por bebida, mulheres e drogas. Muitas drogas, que acabaram levando ao fim precoce de sua carreira.
O filme mostra tudo isso, ou seja, apesar de personagem principal ser um palhaço, não é de forma alguma um filme para crianças. Na verdade, eu tenho que admitir que pessoalmente não aguento mais ver essas histórias de pessoas talentosas, que teimam em se destruir quando finalmente alcançam o sucesso pelo qual lutaram tanto. E isso tem sido uma constante em biografias de artistas, não só no cinema brasileiro como também no americano. Me parece que no final tudo é uma pequena variação da mesma história.
Com esse detalhe à parte – afinal, é uma opinião muito pessoal – o filme é extremamente bem produzido, com fantástica reconstituição de época e uma trilha sonora que é uma delícia. E teve ainda a sorte de contar com um ator principal em estado de graça. Eu sempre admirei o trabalho de Vladimir Brichta, que sempre conseguiu imprimir uma verdade mesmo nos papeis mais bobinhos de novelas e séries. Mas realmente não estava preparada para sua atuação tão superlativa em Bingo. Ele realmente vale o ingresso.