Quando eu era menina, já quase adolescente, era praticamente obrigatório ler os livros de dois autores, Sidney Sheldon e Agatha Christie. E eu adorava os romances policiais de Agatha, especialmente aqueles que eram estrelados pelo detetive Hercule Poirot (sempre achei Miss Marple meio chata). Deles, O Assassinato no Expresso do Oriente sempre foi meu favorito. Ele conta a história de um assassinato que acontece num trem no meio das montanhas , que fica preso numa nevasca. Acidentalmente, o maior detetive do mundo, Hercule Poirot, está lá, e começa a investigar para descobrir quem é o assassino.
Eu adoro histórias que se passam em ambientes fechados, de onde a pessoa/assassino não pode fugir. Depois de ler o livro, vi numa reprise na TV, dublado, o filme de 1974, estrelado por Albert Finney como Monsier Poirot, e mais um monte de estrelas da época. Mesmo sabendo qual era o desfecho da história, assisti, e amei igualmente. Assim, quando foi anunciado que haveria uma refilmagem este ano, agora com Kenneth Branagh assumindo a direção, e ainda o papel de Poirot, fiquei entusiasmada. O filme estreou hoje nos cinemas. O que achei? Bem…
O que achei do filme?
Com certeza, ele é um dos mais bonitos – visualmente falando – filmes que vi este ano. As imagens, a câmera se movimentando pelo meio das montanhas, acompanhando a viagem do trem, tudo é lindo demais, de tirar o fôlego mesmo. Os atores são uma festa para os olhos. O próprio Branagh (simplesmente ótimo, com um bigode perfeito), Michelle Pfeiffer (é ela quem canta a música durante os créditos finais), Judi Dench, Daisy Ridley, Penelope Cruz, Josh Gad, Willem Dafoe, até Johnny Depp funciona como o “assassinado”. A cenografia, os figurinos, tudo lindo, mas…
…o filme se perde no meio. A parte mais interessante da história é como Poirot vai ligando os pontos a partir das conversas com cada um. Ao optar por uma edição confusa, o roteiro acaba deixando o espectador que não souber o desfecho da história confuso também. Além do mais, há uma insistência em mostrar todos em closes, o que num cinema de tela enorme acaba cansando o público.
Eu adorei a atuação de Kenneth, mas com tantos personagens, e grandes atores por trás deles, ele acaba expondo demais o personagem principal, e deixando os demais de lado. Isso fica muito claro na parte final, no momento da revelação do assassino, onde “quem é?” passa a ser de pouca importância, transportando o centro da situação para “o que Poirot vai fazer com a informação?”
De qualquer maneira, o estúdio parece confiante no potencial do filme e termina já chamando para uma sequência, que todos que leram os livros de Agatha Christie, já sabem qual será. No cinema, quando o filme dessa segunda história foi feito, o Poirot foi trocado. Saiu Albert Finney, entrou Peter Ustinov. Mas, do jeito que criou o Poirot dessa vez, é pouco provável que Kenneth Branagh deixe esse bigode de lado.