Sou fã de Guillermo Del Toro, e seu universo mágico, com filmes como O Labirinto do Fauno, Hellboy e A Espinha do Diabo. Há muitos anos, ele sonhava em fazer A Forma da Água, um projeto de coração. Finalmente conseguiu, e ainda colocou vários prêmios no bolso, como o de Filme do Ano, do American Film Institute, e o Leão de Ouro no Festival de Veneza. Ele mesmo já levou os prêmios de direção do Globo de Ouro e do Critics Choice. E quando saíram as indicações do Oscar, A Forma da Água também foi o recordista de indicações do ano, com 13. O filme estreia amanhã nos cinemas e vale ser conhecido.
O filme se passa nos anos 60, no auge da guerra fria. Elisa (Sally Hawkins) é uma faxineira de um grande laboratório experimental secreto do governo. Ela também é muda e solitária. Mas tudo muda quando chega ao local uma criatura fantástica, que é mantida presa, e que o pessoal do governo acha que poderá ser uma arma poderosa contra os soviéticos. Mas Elisa fica fascinada por essa criatura tão diferente, que não consegue ficar longe da água por muito tempo. E ela também acaba ficando fascinada por Elisa. Só que quando percebe que a vida da criatura está em perigo devido à crueldade do agente encarregado (Michael Shannon), Elisa arma um plano para resgatá-la com a ajuda de dois amigos, o vizinho (Richard Jenkins) e a também faxineira Zelda (Octavia Spencer). No meio do perigo e da fantasia, obviamente, Elisa e a criatura vão se apaixonar, em um caso clássico de amor impossível – ou não.
Para quem assiste ao filme, fica muito claro que Del Toro é um grande fã de cinema. Ele faz diversas homenagens, começando pela própria criatura, claramente uma referência ao clássico O Monstro da Lagoa Negra. A trilha sonora de Alexandre Desplat, com vários grandes clássicos da época de ouro de Hollywood, inclusive Benny Goodman e Glen Miller, é um deslumbre. Especialmente o uso de You’ll Never Know, com Alice Faye numa cena de Aquilo sim era vida (1943). Tem também homenagem a Fred Astaire e Ginger Rogers, Betty Grable, A História de Ruth, Shirley Temple em A Mascote do regimento, e até a versão francesa de Jean Cocteau de A Bela e a Fera.
Já aviso que não é um filme para todos. Alguns podem não embarcar numa história tão surreal. Mas Del Toro conseguiu fazer um filme tão bonito, sexy, romântico, violento, atrevido, que é uma delícia para qualquer fã e conhecedor de cinema. Quanto ao elenco, Sally Hawkins está ótima, com todos os trejeitos de … Sally Hawkins; Michael Shannon também, afinal ninguém sabe fazer um doido como ele. As indicações para o Oscar de coadjuvante de Richard Jenkins e Octavia Spencer foram um pouco demais, apesar dos dois sempre estarem bem. No final, entre os atores, quem mais me chamou a atenção foi Michael Stuhlbarg, como o Dr. Robert Hoffstetler. Se juntar essa atuação com a de Me Chame pelo seu Nome, ele é outro grande injustiçado do Oscar desse ano.
Aliás, as chances de A Forma da Água sair com algumas estatuetas, especialmente a de melhor diretor, são grandes. O porém no caminho é saber se a Academia vai dar ouvidos à acusação de que a história seria um plágio de uma peça do vencedor do Pulitzer, Paul Zindel, escrita em 1969, chamada Let me Hear You Whisper, que também conta a história de uma mulher que trabalha em um laboratório nos anos 60, que tenta salvar uma criatura aquática. Não conheço a peça para poder opinar, mas uma acusação como essa – Del Toro nega conhecer a peça – pode estragar a festa para o filme.