O carnaval está batendo na porta, mas se você quer algo muito distante disso, minha sugestão é o indicado ao Oscar de Filme Estrangeiro, Sem Amor, que estreia nessa quinta nos cinemas. Ele é direto, rude, forte, e por isso mesmo excelente. Um drama onde as pessoas não sentem um mínimo de amor pelo outro. Por isso, não é para todos os públicos. Se você não gosta de filmes densos e incômodos, nem perca seu tempo.
Sem Amor já começa mostrando um casal, Boris e Zhenya, que estão nos estágios finais de um divórcio terrível. Ainda vivem sob o mesmo teto, mas já tem outras pessoas em suas vidas. Só que os insultos ocorrem a todo o momento, transformando o ambiente em algo insuportável. E o problema maior, que eles não conseguem resolver é uma situação urgente, a custódia do filho de ambos de 12 anos, Alyosha. Obviamente, o menino não é amado, e nenhum dos pais quer ficar com ele. O que o casal não sabe, entretanto, é que Alyosha consegue ouvir tudo o que os dois falam, o que provoca uma das cenas mais difíceis de assistir no filme (mas mesmo assim, brilhante). Enquanto Boris e Zhenya estão muito preocupados com suas próprias vidas, não percebem que o menino desapareceu…há dois dias. Mas será que esse é apenas um caso de um garoto que resolveu fugir e se afastar dos problemas?
O diretor Andrei Zvyagintsev não é um estranho para os membros da Academia. Ele dirigiu Leviathan, que foi indicado ao prêmio em 2015. Mas aqui ele vai fundo nesse distanciamento das pessoas no mundo de hoje. Tanto Boris como Zhenya estão mais preocupados com o que as pessoas pensam, do que é postado nas redes sociais, do que com seu filho, que foi resultado de uma gravidez não planejada. As cenas com a mãe de Zhenya são de uma crueldade verbal sem limites.
Após o sumiço de Alyosha, o diretor ainda começa a brincar com a audiência mostrando pessoas e situações que parecem ter algo a ver com o caso, mas não tem. Além disso, é interessante perceber que o final pode ter várias possibilidades. Ao conversar com uma outra jornalista na sessão para a imprensa, percebi que nós havíamos interpretado o desfecho de forma completamente diferente. E que na verdade, as duas visões eram perfeitamente possíveis.
É muito difícil encontrar filmes que permitem essa opção ao expectador. Com isso, Sem Amor vem colecionando prêmios pelo mundo. Prêmio do Júri no Festival de Cannes, melhor filme no London Film Festival e pelo Munich Film Festival, melhor filme estrangeiro pelos Críticos de Los Angeles, entre outros. Se vai ganhar o Oscar, é difícil de prever, mas o filme já é um belo candidato para a lista dos melhores do ano.