Eu adoro séries de época, especialmente daquela fase vitoriana, como Penny Dreadful, por exemplo (sinto tanta falta dessa série!). Então quando comecei a ler sobre The Alienist, que já está disponível na Netflix, fiquei obviamente interessada. Ela é baseada em um livro de Caleb Carr, publicado em 1994, e disponível no Brasil – não confundir com O Alienista da Machado de Assis. A série, e o livro, já começam com o aviso que “antes do século 20, pessoas que sofriam de doenças mentais eram descritas como ‘alienadas’ não só da sociedade como também de suas verdadeiras naturezas. Aqueles que estudavam essas patologias mentais eram chamadas de Alienistas”
Com essa introdução, a série nos apresenta a um desses alienistas, o Dr. Laszlo Kreizler (Daniel Bruhl), que fica fascinado com crimes envolvendo um serial killer na cidade de Nova York em 1896. Esse criminoso mata com requintes de crueldade garotos por volta dos 13 anos que se vestem de mulher para se prostituir. Para investigar quem é a mente doentia que está por trás disso, Laszlo recorre à ajuda do ilustrador John Moore (Luke Evans), de Sara Howard (Dakota Fanning), a primeira mulher a ser contratada para o departamento de polícia, e dos irmãos detetives Marcus (Douglas Smith) e Lucius Isaacson (Matthew Shear). Isso além do apoio do comissário de polícia Theodore Roosevelt (Brian Geraghty), o mesmo que mais tarde se tornaria na vida real um dos presidentes dos Estados Unidos. Outra figura verdadeira, e manipuladora, é o banqueiro J. P. Morgan (o veterano Michael Ironside), cujo império permanece até os dias de hoje.
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A série acompanha as investigações feitas da maneira mais intuitiva possível, já que não havia tecnologia e ferramentas mínimas como conhecemos hoje. Esse pequeno grupo também tem que lutar contra a corrupção na polícia de Nova York, que foi uma das grandes lutas do verdadeiro Roosevelt na época. A série não deixa de mostrar situações fortes, bem pesadas mesmo, especialmente ao mostrar as vidas dos garotos prostituídos, e os detalhes das mentes enlouquecidas não só do criminoso, mas também de possíveis suspeitos. Na verdade, todos os personagens, inclusive os heróis, tem demônios internos a enfrentar durante a investigação, o que torna toda a história ainda mais interessante. Isso sem contar os sentimentos que eles ainda nutrem uns pelos outros.
Com uma bela reconstituição de época, há ainda a curiosidade de ver uma Nova York que tem pouco a ver com os dias de hoje, mas que ainda é possível identificar. Por exemplo, uma das cenas finais se passa no Croton Reservoir, que realmente existiu e é onde estão hoje a Biblioteca Pública e o Bryant Park na cidade, e o Old Met, onde John e Lazlo vão a ópera, ficava na rua 39 com a Broadway.
Outro destaque são as presenças de gente conhecida como Ted Levine, como o ex-comissário que ainda tem muita influência na polícia. Numa série sobre serial killers, é interessante lembrar que ele foi o assassino de O Silêncio dos Inocentes. E mais surpreendente foi ver Sean Young, a estrela de Blade Runner e Sem Saída, como a mãe de um dos suspeitos dos assassinatos. Ela não tem muito a fazer aqui, mas é sempre uma forte presença.
Nos Estados Unidos, a série foi exibida pelo canal TNT, e teve uma inesperada e excelente audiência. Então, apesar de ter sido idealizada como uma série-evento, sem planos para uma segunda temporada, pode ser que os planos mudem. Além do mais o final é aberto, e Caleb Carr escreveu uma sequência, O Anjo das Trevas, também disponível no Brasil, com uma nova história apresentando esses fascinantes investigadores. Além de recomendar The Alienist na Netflix, com certeza também veria uma série baseada em O Anjo das Trevas.