O sucesso de uma série é sempre uma via de mão dupla. Ao mesmo tempo em que isso implica uma segunda temporada, sempre há a pergunta se ela não seria melhor somente como uma história com começo, meio e fim contada em poucos episódios. É o que me pergunto no que diz respeito a Big Little Lies, que conseguiu até Meryl Streep para seu retorno. E também, é claro, era minha dúvida com relação à 13 Reasons Why, cuja segunda temporada está disponível na Netflix. No caso dessa última, apesar de totalmente diferente da primeira, a segunda visão sobre o que acontece aos amigos de Hannah (Katherine Langford) após seu suicídio, é igualmente forte, emocionante e incômoda.
Tanto na primeira como na segunda temporada, eu não consegui “maratonar”. Assisti no máximo dois episódios por dia, para conseguir absorver a angústia e a tristeza desses personagens. Especialmente no caso de Clay (Dylan Minnette), que é a figura principal nesse momento. Na primeira temporada, Hannah era a narradora e contava em 13 histórias as razões que a levaram a tomar a decisão de se matar. Teve um enorme sucesso, mas também foi criticada por muitos pela forma como abordou assuntos tão importantes como suicídio, estupro e bullying. Agora, cada episódio é narrado por uma das pessoas que foi tema das fitas de Hannah.
Com isso, ficamos sabendo de várias histórias que não estavam presentes nas fitas e que são mencionadas durante o julgamento da escola Liberty High. O motivo é o descaso em perceber que Hannah precisava de ajuda, e que o seu suicídio poderia ter sido evitado. Logo no primeiro episódio, Tyler (Devin Druid) diz em off, “eu sei que muita gente não quer que falemos sobre o que aconteceu. Mas se não falarmos, isso nunca vai mudar. Então é importante que todo mundo entenda como tudo aconteceu. Toda a história.” É claro que tudo o que é falado pode ser verdade ou mentira. Cabe ao público decidir se o que cada um declara é real ou não.
O elenco é um show à parte. É claro que há alguns problemas como Miles Heizer, que continua muito fraquinho em um personagem tão importante como Alex. Mas há também aqueles que estão simplesmente incríveis. Kate Walsh, que já tinha me impressionado na primeira temporada, tem aqui uma fantástica atuação -Emmy de coadjuvante já pra ela . Alisha Boe (Jessica) – especialmente nas cenas de tribunal – e Dylan Minnette também arrasaram com toda a dor e tensão de seus personagens.
Tenho lido alguns títulos de posts falando mal sobre essa segunda temporada (não li os textos para evitar spoilers). Eu gostei bastante. O mistério da verdade, o ponto de vista sofrido de cada um dos envolvidos, e o inferno do bullying, da pressão, de não poder abrir a boca sobre o que acontece. Tudo continua lá. E ainda mais forte, porque agora é o sofrimento de todos. Na primeira temporada chorei em apenas uma cena, quando Olivia (Kate Walsh) descobre Hannah na banheira. Nesse segunda, chorei em diversos momentos, especialmente no último episódio, especialmente nos depoimentos das mulheres.
É claro que há episódios mais fracos, e realmente não sei se a decisão de Hannah continuar presente na imaginação de Clay, foi a melhor opção do ponto de vista de narrativa. Mas de qualquer maneira, isso também é explicado de maneira convincente no último episódio. Este, aliás, deixa clara uma porta aberta para uma possível terceira temporada, já que o destino de vários personagens sofre uma mudança radical.
E é bem provável que ela aconteça, obviamente sem Hannah – Katherine Langford já oficializou que não retornará. Segundo um estudo da Parrot Analytics, que analisa a performance de conteúdos originais de streaming nos Estados Unidos, a estreia da segnda temporada teve 64,4 milhões de expressões de demanda, reforçando seu posto como um dos grandes sucessos da Netflix. Só para esclarecer, esses 64, 4 milhões não significam pessoas que efetivamente assistiram a série, já que o número é baseado em pessoas que indicaram o desejo de ver o conteúdo em mídias sociais, plataformas de vídeo, blogs, sites de pirataria, entre outras fontes.
Em todos os episódios, é divulgada uma chamada para o site 13reasonwhy.info , que inclui um Guia de Discussão e uma Série de Discussões – um conjunto de vídeos no qual o elenco aborda diversas questões, incluindo bullying, assédio sexual e abuso de drogas.