Eu já tinha passado várias vezes por Desejarás enquanto procurava o que assistir na Netflix. Só que as fotos e a premissa sempre me pareceram coisa de filme ruim. Veja só: “Ofelia chega ao casamento de sua irmã disposta a consertar a relação abalada com ela, mas acaba caindo em tentação quando conhece o noivo”. Resolvi mudar de ideia quando, na semana passada, li uma matéria sobre o filme no Variety. Nela, o diretor Diego Kaplan defendia seu filme da acusação de conter pornografia infantil.
O problema é uma cena que mostra duas irmãs, de aproximadamente uns 10 anos, assistindo um filme de faroeste. Quando uma delas começa a imitar o cowboy usando um travesseiro como cavalo, acaba experimentando seu primeiro orgasmo. A comentarista Megan Fox (nada a ver com a atriz) chegou mesmo a reportar o caso e a Netflix ao Centro Nacional de Crianças Perdidas e Exploradas. Em sua defesa, Diego Kaplan soltou um comunicado onde dizia que as duas meninas nunca souberam o que estavam fazendo. ” É claro que fizemos a cena usando um truque, que era fazer as meninas copiarem uma cena de cowboy de um filme de John Ford. Elas nunca entenderam o que estavam fazendo, somente estavam copiando o que viam na tela. Nenhum adulto interagiu com as meninas, além de seu professor de atuação. Tudo foi feito com cuidadosa observação das mães das meninas. Porque eu sabia que essa cena poderia causar certa controvérsia em algum momento, há um making of da filmagem de toda a cena. Tudo acontece na cabeça dos espectadores, e como você imagina que essa cena foi filmada vai depender do seu nível de depravação.”
Wow! Bem, vamos ao filme…
A cena em questão é logo a primeira. Realmente fica claro que as meninas devem ter pensado que estavam brincando. Ela serve para mostrar a diferença entre as duas irmãs, Ofelia, a que sente o orgasmo, e sua irmã Lucia (Monica Antonopulus, muito parecida com Penelope Cruz, e a menos ruim do elenco), que sempre a observa. O filme passa pela adolescência das duas, quando conhecem dois irmãos, o que acaba com consequências trágicas. E no presente, mais especificamente nos anos 70, Lucia é uma cantora famosa, que vai se casar com Juan. Mas na noite do casamento, Ofelia chega com seu namorado brasileiro, Andrés (Guilherme Winter, o Moisés da novela Os Dez Mandamentos), e a atração entre ela e Juan fica evidente desde o primeiro momento, especialmente depois que ele descobre umas fitas onde ela gravou seus pensamentos sobre sexo.
Num primeiro momento não entendi direito se o diretor queria homenagear os filmes eróticos dos anos 70, ou se realmente queria fazer apenas uma cópia. No final, achei que isso era um desejo dele de fazer esse tipo de filme que não existe mais. Está tudo lá, os atores ruins, os closes demorados, a péssima edição, a dublagem horrorosa dos diálogos, a produção pobrinha – tudo se passa numa casa de praia – , muita nudez – várias frontais – , cenas de sexo, e a obsessão sobre o assunto. Você já deve ter visto algo parecido em alguma madrugada no canal Brasil.
Ou seja, o filme é muito fraquinho, mas se você tem idade suficiente para ter assistido Sala Especial na TV alguma vez na vida, pode até se divertir com a viagem no tempo. Mas, a maioria, creio eu, vai mais é rir com o ridículo de algumas cenas , tão datadas que dão dó.