Costumo dizer que há filmes que a gente não consegue ver com o olhar crítico. Talvez porque marcaram muito a nossa infância. Talvez porque a lembrança seja de um filme maravilhoso aos olhos de uma criança, e não de um adulto. Assisti poucas vezes Mary Poppins, de 1964, todas ainda criança. Mas tenho a lembrança de algumas cenas, e principalmente das músicas inesquecíveis. Supercalifragilisticexpialidocious e Chim-Chim-Cherie são duas que de vez em quando me pego cantarolando. Por isso, estava aguardando ansiosamente a estreia de O Retorno de Mary Poppins, que estreia essa semana nos cinemas, 54 anos depois do original.
O filme é bonito, e principalmente, relembra os musicais de antigamente. Faz uma tremenda homenagem ao original. Tem até uma sequência de animação feita a mão, algo que não se vê mais hoje em dia. Mas, de alguma maneira, não me conquistou. Na verdade, até me cansou, com alguns números musicais desnecessários (o de Meryl Streep, como a prima Topsy, principalmente). É difícil dizer para quem o filme é direcionado, já que as crianças pequenas de hoje podem ter dificuldade em manter a atenção. Afinal, tem muita música – muita mesmo -, e a história não encanta.
A história
O Retorno de Mary Poppins, como o próprio nome já diz, é uma sequência. Cerca de 25 anos se passaram desde que Mary Poppins (na época, Julie Andrews, premiada com o Oscar) foi embora voando pelos céus de Londres. Os já adultos Jane e Michael Banks continuam a viver em Londres. Michael (Ben Whishaw) ficou viúvo recentemente, e tem dificuldades para criar os três filhos, mesmo com a presença sempre carinhosa de Jane ( Emily Mortimer). Com a possibilidade de perder a casa, a família Banks se sente perdida. É nesse momento que eles recebem a visita de Mary Poppins (Emily Blunt). Com seus poderes mágicos únicos, e com a ajuda de seu amigo Jack (Lin-Manuel Miranda), Mary vai fazer a família redescobrir a felicidade.
O elenco
Apesar de não ter a efusividade de Julie Andrews, Emily Blunt é perfeita. Ela faz uma Mary mais séria, mas não menos adorável. É uma grande atriz. Está indicada ao Globo de Oscar, SAG’s e Critics Choice. Lin-Manuel Miranda, o criador do musical de enorme sucesso da Broadway, Hamilton, faz Jack. Ele seria o garotinho que andava com Bert (Dick Van Dyke) no primeiro filme. É claro que Lin domina a linguagem do musical como ninguém. Mas há momentos em que ele aparece tanto quanto Mary Poppins, e lhe falta o carisma, além do próprio interesse do público em sua história.
Mas, tem a emoção…
Normalmente, não gosto de comparar novas versões com as antigas. Acho que o público é capaz de aceitar tudo, sem deixar de amar um filme porque outro foi feito. Mas, não vejo O Retorno de Mary Poppins sendo relembrado daqui a cinquenta anos. Sim , é um filme com momentos bonitos. Tenho que admitir que adorei rever Dick Van Dyke , do alto de seus 93 anos (completados essa semana), dançando e cantando. Um assombro! E falando em veteranos, que lindo número de Angela Lansbury (obviamente pensado para Julie Andrews, que não quis aparecer no filme)! Também com 93 anos, ela canta, e encanta, no melhor número do filme, justamente o quase final, Nowhere to go but up. Mesmo com todos os problemas do filme, essa parte me emocionou (sim, teve uma lágrima furtiva). Afinal, com personagens amados e lembranças infantis, não tem como não acontecer algo assim.