O mundo do cinema já sofreu grandes perdas neste ano de 2019. Mas, para mim, nenhuma foi ou será tão sentida como a de Rubens Ewald Filho. Para muitos, ele era a cara do Oscar. Para outros, o crítico de cinema mais conhecido do Brasil. Sim, ele era tudo isso. Mas para mim, era muito mais. Era meu ídolo, uma das razões que me levaram a fazer a faculdade de jornalismo há milhões de anos. Era meu mestre, aquele em quem eu me espelhei para ler muito e conhecer todas a vertentes do cinema. Mas, mais do que isso, era meu grande amigo. Sua morte, tão repentina, aos 74 anos hoje (19), deixa um vácuo na história do cinema no Brasil. O Oscar, como já aconteceu esse ano, nunca mais será o mesmo sem seus comentários divertidos e ferinos. Vai fazer muita falta!
O início
Rubens, como eu, nasceu em Santos. Começou sua carreira de crítico no Jornal A Tribuna. Trabalhou nos maiores veículos de comunicação do país, escrevendo sobre cinema. Foi autor de novelas, dirigiu peças de teatro, escreveu um monte de livros, apresentou programas na TV. E associou sua imagem ao Oscar por anos e anos apresentando e comentando o prêmio. Conheci Rubens pelos seus comentários na Tribuna, com a coluna Os Filmes de Hoje na TV, que depois virou livro, que eu devorava todo o tempo (ele ainda existe, mas bem destruído de tanto que foi manuseado). Outro de seus livros que eu amava era o Dicionário de Cineastas, que virou uma bíblia nas minhas pesquisas adolescentes sobre cinema – e até hoje. Quando entrei na Faculdade de Jornalismo em Santos, Rubens foi fazer uma palestra durante a aula de cinema. Foi o momento em que nos conhecemos quando levei esse último livro para que ele autografasse. Foi também quando contei a ele sobre minha paixão pelo cinema e começamos a conversar. Assim era o Rubens, sempre querendo ouvir gente jovem falando sobre seus sonhos de cinema.
Nossa amizade começou na verdade quando vim para São Paulo e comecei a trabalhar na LK-Tel Vídeo. Ali, divulgando vídeos da Columbia Pictures, tínhamos a oportunidade de conversar sobre lançamentos, e em várias ocasiões nos encontrávamos em eventos do mercado. Ele sempre tinha um conselho, uma palavra de encorajamento, para aquela garota de então, começando na profissão.
O Oscar
Quando fui trabalhar na Turner, dona do canal TNT, Rubens foi um dos motivos pelos quais aceitei ir para lá. Sim, porque ele estaria lá também apresentando o Oscar. Rubens já havia feito transmissões do Oscar na Globo e no SBT, e naquele momento faria sua primeira transmissão pelo canal pago. Foi uma delícia trabalhar na divulgação do prêmio, e ainda mais com a presença de meu grande amigo. Foram vários anos juntos.
Quando saí de lá, Rubens foi uma das primeiras pessoas para quem liguei. Ele ainda continuou fazendo o Oscar no canal por alguns anos depois disso. Infelizmente, neste ano de 2019 ele não fez mais. Talvez por um comentário infeliz, que as pessoas que não o conheciam, e principalmente não entendiam seu tipo de humor, chamaram de preconceituoso. Nada mais impossível. Rubens era aquele que justamente não tinha preconceito, simplesmente falava as coisas de modo simples, para que todos entendessem. Era assim com suas críticas de cinema, era assim com seus comentários do Oscar. Uma pena que nos dias de hoje, muitos ficam buscando pelo em ovo.
Doris, Debbie e o adeus!
Rubens Ewald Filho foi embora nos deixando uma lacuna como jornalista de cinema e como ser humano, que ajudou muita gente. A última vez que nos falamos foi sobre a morte de Doris Day, uma de suas atrizes favoritas. Minha felicidade nesse momento é que agora ele está ao lado de Doris, Debbie Reynolds e todas aquelas grandes estrelas de Hollywood que ele tanto amava. A tristeza fica só aqui conosco, que não estamos mais com ele. E que saudades teremos daqueles momentos em que , rindo, ele falava: “Mas que bobagem!”
Adeus, amigo!
Antonio Carlos Gomes Ferreira
21 de junho de 2019 às 1:21 pm
Concordo com todas as suas afirmações, simplesmente o melhor e insubstituível…Deus o receba com carinho!!
Eliane
21 de junho de 2019 às 2:52 pm
Obrigada, Antonio Carlos!