Eli Wallach faleceu ontem aos 98 anos. Não atuava desde os 95 (sim, é isso mesmo) quando fez uma participação em Wall Street- O Dinheiro Nunca Dorme. A importância de seu trabalho para a história do cinema é enorme. Um dos grande atores da escola do “Método”, ele estreou na Broadway em 1945 e ganhou um Tony (o Oscar do teatro) em 1951 por A Rosa Tatuada. Sua estreia no cinema ocorreu em 1956 em mais uma adaptação de uma obra de Tennessee Williams, Boneca de Carne (1956), pelo qual foi indicado ao Globo de Ouro e ganhou um BAFTA. Mas, isso era para ter acontecido 3 anos antes.
Eli era o escolhido para fazer o papel de Maggio em A um Passo da Eternidade (1953). Mas diz a lenda que a Máfia fez uma grande pressão sobre o estúdio que Frank Sinatra fôsse o escolhido. Então, em tese, Eli recusou o papel, que acabou nas mãos de Frank, que ganhou um Oscar pelo papel. Eu nunca li comentário algum de Eli sobre esse ocorrido…
Depois de sua estreia oficial, sua carreira deslanchou. Participou de grandes clássicos como O Sádico Selvagem(1958), Sete Homens e um Destino (ou Os 7 Magníficos, 1960), Os Desajustados (1961), A Conquista do Oeste (1962) e Lord Jim (1965). Um fato engraçado é que material da época diz que Eli não sabia andar a cavalo. Ele só aprendeu graças aos dublês mexicanos que o ensinaram nos bastidores de Sete Homens… Como alguém que tem pavor de andar a cavalo, posso dizer que ele era realmente um grande ator!
Sua atuação mais lembrada é também em um faroeste, mas num “spaghetti western”, como ficou conhecido o gênero tornado famoso pelo diretor Sergio Leone. Em Três Homens em Conflito (1966), ele é o bandido Tuco. Ao seu lado, estava Clint Eastwood, que se tornou astro graças a este filme. Os dois se tornaram amigos até o fim da vida e Clint fez um adorável discurso quando Eli foi homenageado pela Academia com um Oscar Honorário por sua carreira em 2011.
Wallach também fez muita televisão.Desde os teleteatros dos anos 50 até o Mr. Freeze/Sr. Frio na série Batman (1967). Ele costumava brincar dizendo que recebia mais cartas de fãs por esse personagem do que por qualquer outro de sua carreira. Recentemente esteve também em Plantão Médico, Law & Order SVU, Nurse Jackie entre outros.
No cinema, mesmo com sua idade avançada, continuou trabalhando e tendo grandes atuações como Sobre Meninos e Lobos (dirigido pelo amigo Clint Eastwood em 2003), Nova York, Eu te Amo (2008) e O Escritor Fantasma (2010).
Para mim, a interpretação mais inesquecível de Eli não é de nenhum faroeste, nem de sua atuação mais premiada em Boneca de Carne. É um lindo momento de O Amor não Tira Férias, produção de 2006. Ele é um roteirista da época de ouro de Hollywood, aposentado, que é convidado para receber uma homenagem. Ele não quer aceitar porque crê que ninguém mais se lembra dele, mas é covencido por sua nova amiga, Iris (Kate Winslet). Ele acha que o lugar vai estar vazio. Mas quando a porta se abre, o auditório está lotado. A expressão no rosto dele sempre me emociona.
Aproveito para terminar esta matéria-homenagem com o discurso de Arthur, o personagem de O Amor não tira férias. Achei que refletia o amor que Eli sentia pelo cinema e o que sentimos pelas belas atuações que nos deixou.
“Eu cheguei em Hollywood há mais de 60 anos e imediatamente me apaixonei pelo cinema. Um amor que dura uma vida. Quando eu cheguei em Tinseltown, não tínhamos cineplexes ou multiplexes. Nem Blockbuster ou DVD. Foi antes de conglomerados serem donos dos estúdios. Antes que os filmes tivessem uma equipe de efeitos especiais. E definitivamente antes que os resultados de bilheteria fossem reportados como o placar de um jogo de baseball no jornal da noite”