Provavelmente, há muita gente por aí que não ouviu falar de Orson Welles. É interessante analisar sua carreira hoje em dia. Ele era um homem que buscava o diferente, quebrava paradigmas, um vanguardista. É famosa a história do programa de rádio que fez de A Guerra dos Mundos , que fez muita gente pensar que uma invasão extraterrestre realmente estava acontecendo lá em 1938. Ele também produziu alguns filmes que estavam à frente de seu tempo, inclusive o seu primeiro, Cidadão Kane, que sempre esteve nas listas de melhores filmes de todos os tempos. Já faz muitos anos que assisti o filme, mas ele é de uma beleza ímpar. E nos últimos tempos andei “tirando o atraso” de vários filmes desse grande cineasta, ator, roteirista. Veja abaixo a lista de filmes – sim, a maioria é preto e branco, então veja sem preconceito.
Cidadão Kane – Google Play para compra ou aluguel
Baseado na vida do magnata William Randolph Hearst, que tentou a todo custo impedir que ele fosse lançado. O filme conta a história do magnata da imprensa Charles Foster Kane em uma sequência de flashbacks. Um jornalista fica intrigado pela última palavra de Kane – rosebud – e tenta descobrir o seu significado entrevistando pessoas do passado do magnata. Cidadão Kane concorreu a 9 Oscars, mas só ganhou o de roteiro. O reconhecimento mundial veio somente anos depois.
O Terceiro Homem – Google Play para compra e aluguel
Quando estive em Viena, fiz o tour pelos lugares onde O Terceiro Homem foi filmado há mais de 50 anos. Na historia, baseada em livro de Graham Greene, Um escritor americano (Joseph Cotten) chega a Viena, após a Segunda Guerra, e descobre que seu amigo Harry Lime (Orson Welles) foi morto sob circunstâncias misteriosas. Ele passa a investigar o caso e descobre várias inconsistências nas explicações dos amigos de Harry. Elogiadíssimo filme, dirigido por Carol Reed. Orson Welles aparece somente durante 5 minutos de filme, mas seu personagem está sempre presente.
O Estranho – Netflix
É sempre difícil achar filmes antigos na Netflix, ainda mais em preto e branco. Por isso fiquei surpresa ao me deparar com O Estranho no serviço. Feito em 1946, é um dos menos conhecidos trabalhos de Welles como realizador. O interessante é que é também o único de seus filmes como diretor que deu lucro nas bilheterias. Além de dirigir, ele também é o astro principal ao lado de Edward G. Robinson e Loretta Young. O filme tem todas as grandes marcas de Welles, a fotografia dominada pelas sombras, ângulos inusitados, e ele num papel de uma pessoa bem mais velha.
Após a Segunda Guerra Mundial, o ex-nazista Franz Kindler (Orson Welles) passa a viver com uma falsa identidade, como professor em uma pequena cidade de Connecticut, e até se casa com a filha do juiz (Loretta Young) como parte de seu disfarce. Porém quando um dos antigos companheiros alemães de Kindler chega inesperadamente à cidade, trazendo em seu rastro um astuto investigador federal (Edward G. Robinson), Kindler toma medidas desesperadoras para preservar seu segredo. O filme envelheceu um pouco , especialmente nas atuação exagerada de Welles, mas ainda é um belo retrato do cinema de uma época.
A Marca da Maldade – Telecine Play
Outro grande filme de Welles como diretor e ator. Diz a lenda que ele havia sido contratado somente como ator, mas graças ao astro Charlton Heston, acabou dirigindo também. E que brilhantismo! Repare na sequência inicial feita em uma única tomada. Um carro-bomba explode na fronteira dos Estados Unidos com o México e o agente mexicano da polícia de combate ao narcotráfico, Miguel Vargas (Charlton Heston), inicia uma investigação junto com o capitão americano Hank Quinlan (Welles). Quando Vargas suspeita que o policial Quinlan e seu parceiro, Menzies (Joseph Calleia), estão plantando evidências falsas para incriminar um homem inocente, seus achados põem a vida dele e de sua mulher, Susie (Janet Leigh), em perigo.
O Outro Lado do Vento – Netflix
Nos anos 70, Welles teve uma nova chance na direção com O Outro Lado do Vento. Só que anos depois, com o dinheiro do produtor tendo acabado, o filme foi abandonado, mesmo já tendo mais de 100 horas filmadas. Depois de várias tentativas de finalizar o filme, a coisa realmente só aconteceu com a participação da Netflix. Logo no início, vemos um quadro dizendo que a edição final foi feita com o objetivo de respeitar a visão de Welles. O Outro Lado do Vento tem toques obviamente autobiográficos.
Nele, um diretor de Hollywood volta de seu semi-exílio com planos para concluir um filme inovador. Trata-se de Jake Hannaford (feito pelo sempre brilhante John Houston), um velho cineasta com uma visão artística complexa e muito combatida por alguns produtores. Afinal, seu processo criativo é livre e, totalmente caótico. A obra que está tentando concluir se chama “O Outro Lado do Vento”. Então acompanhamos não só a história do filme, como também a avalanche de problemas que Hannaford tem que enfrentar para conseguir finalizar seu trabalho. Um ator que sai no meio das filmagens, produtores que tentam limitar seus esforços, recursos escassos, e toda a loucura dos anos 70. Visto com os olhos de hoje, O Outro Lado do vento ficou muito datado, mais anos 70, impossível. Se você relevar isso, pode até entrar na loucura do filme de Welles.