Quem conhece a carreira do diretor e roteirista Claude Lelouch, sabe que ele é um apaixonado pelas relações entre homens e mulheres. Afinal, ele é o cara que fez um dos grandes clássicos do cinema francês, Um Homem, Uma Mulher, que ganhou o Oscar e o Globo de Ouro de filme estrangeiro, além da Palma de Ouro em Cannes. Voltou inclusive a esse personagens em Um Homem, Uma Mulher: vinte anos depois, e recentemente em The Best Years of a Life. Mas houve outras história de amor em sua carreira. Amantes & Infiéis (2002), A Nós Dois (1979), Esses Amores (2010), Edith e Marcel (1983), O Homem que eu Amo (1969), Viver por Viver (1962) entre outros. Infelizmente, o único filme do diretor que achei no streaming foi Un + Une, de 2016, que nunca tinha visto, e foi uma grata surpresa.
O filme é uma comédia romântica, que foi apresentado no Festival de Cinema de Toronto. Tudo começa com um roubo de jóias e atropelamento na Índia. Só que essa história é só uma desculpa para o verdadeiro tema. Antoine Abeilard (Jean Dujardin) é um badalado compositor de trilhas sonoras que viaja à Índia para trabalhar numa versão bollywoodiana de Romeu e Julieta (a história do roubo e atropelamento). Lá, ele conhece a esposa, Anna (Elsa Zylberstein) do diplomata francês (Christophe Lambert). A atração começa desde o início, mas logo os dois se vêem numa viagem pelo interior da Índia, onde acabam desenvolvendo um relacionamento muito diferente, um amor adulto.
A crítica
É claro que para quem gosta de clássicos, a primeira lembrança é o filme Desencontro, grande clássico de David Lean. Um casal comprometido com outras pessoas se apaixona durante uma determinada jornada. Só que aqui, mesmo com toda a “bagagem” do casal, tudo é mais leve, adulto e moderno. Os dois podem falar sobre o que pensam da situação livremente, enquanto buscam um autoconhecimento e a cura de seus problemas com uma mulher que realmente existe na Índia, Mata Amritanandamayi Devi, que tem o apelido de Amma. A Amma do filme, com seus abraços milagrosos, é uma figura real e terna. A cena do encontro dos dois com Amma pode emocionar muita gente.
Confesso que não me emocionei, mas fiquei fascinada com a jornada desses dois. Num primeiro momento, achei que Anna, a mulher do cônsul, era um tanto chata, falando sem parar sobre pontos da filosofia New Age. Mas os olhares, o charme desses dois, é tudo tão perfeito, que você fica querendo mais sobre essa história ao final. Fica um gostinho de “quero mais”! Aliás, têm duas reviravoltas extremamente interessantes na meia hora final. Os românticos como eu vão amar essa história de amor!
A Índia é mostrada de uma forma colorida, realista (creio eu), mas mesmo assim, respeitosa. Para quem tem curiosidade de conhecer a cultura local, é uma bela oportunidade. Tudo ao som da linda música de Francis Lai, parceiro de Lelouch desde os tempos de Um Homem, Uma Mulher (badabada badabada, como esquecer esse tema?). Há também referências constantes ao cinema, até a Nós que Nos Amávamos Tanto, de Ettore Scola. E, é claro, têm os protagonistas. Elza Zylberstein, do ótimo Os Meninos que enganavam os Nazistas, é doce e real. Já Jean Dujardin, vencedor do Oscar por O Artista, tem aqui o seu melhor momento. Como não se apaixonar por ele? Aquele sorriso, aquele olhar… Nossa!