Confesso que não assisto muito as séries de comédia. Na hora de escolher, sempre acabo optando pelos dramas. Há algumas exceções, claro, como The Big Bang Theory, Friends, Veep. Mas no geral, é difícil preferir uma comédia do que um drama ou uma série de fantasia. Por isso, estou adorando que meu amigo José Augusto Paulo esteja escrevendo sobre essas séries divertidas, e assuma essa lacuna aqui do Blog. Na última semana, ele escreveu sobre Special, e hoje a série de comédia escolhida é Please Like Me, também disponível na Netflix.
Please Like Me
Please Like Me, como Special, mantem, no personagem central, o mesmo nome do ator (Ryan=Ryan e Josh=Josh), mas amplia essa ideia a quase todos os personagens. A serie australiana, que fez sucesso na ABC australiana em 2013, acabou tendo quatro temporadas. Já havia escutado falar de Josh Thomas e de seu talento como comediante (sua participação no Edinburgh Festival foi muito bem comentada). Mas, de início, não achei que ele seria convincente como um personagem de 20 anos. Isso porque embora ele só tivesse 26 quando a série começou, o cabelo e rosto dão a impressão de vários anos a mais.
Please Like Me cobre o dia-a-dia de Josh, rapaz mediano, filho de pais separados e que vive com amigos. Aos vinte anos, ao desmanchar com a namorada ( a bela e descolada Caitlin Stasey), tem de ouvir dessa que ele deve ser gay. Josh tenta discutir isso com o amigo Tom e nesse entremeio conhece Geoffrey (Wade Briggs), colega de Tom, que é gay. Ele se insinua a Josh e a quase primeira noite dos dois dá o tom da série: uma certa incompetência de Josh em lidar de forma prática com situações que a vida lhe apresenta.
Entre desligado e egocêntrico, interessado e neutro, auxiliando e esquecendo de oferecer ajuda, Josh vai desenvolvendo o personagem. Se irrita um pouco nos primeiros dois episódios, eventualmente nos cativa e nos faz entender as suas falhas, lamentar seus desencantos e apreciar seu senso de humor, seco e inteligente. De uma maneira que cria uma autoproteção quando a situação requer mais vulnerabilidade ou uma ação mais firme. Judi Farr está excelente como a tia que vem ajudar a cuidar da mãe de Josh (Debra Lawrence, em uma performance sem nonsense, clean cut e bem focada).
Curiosidades
A série também ajuda a mostra mais da Austrália, dos seus costumes, sua arquitetura e opções de entretenimento. Para os que assistirem com o audio original, têm suas variadas gírias e frases de efeito. Faz uso de ângulos interessantes e, às vezes, bem abertos, numa produção que cria um ambiente para Josh tão confuso e entulhado como parecem estar as ideias dele. Vários momentos (como a revelação de Josh, feito por Geoffrey, enquanto os três estão dentro do carro do pai de Josh em um lava-rápido) parecem inusitados e pouco prováveis a princípio. Mas se tornam aceitáveis quando nos familiarizamos mais com as atitudes e cultura dos australianos. Em um episódio, um funeral ocorre na manhã do mesmo dia em que ocorre uma festa de aniversário. Embora pareça estranho, os australianos são conhecidos por sua resiliência e um certo humor seco e cortante.
A sequência do funeral mostra um hábito que os australianos “herdaram” da colonização britânica: o ‘wake’. No Reino Unido (como em vários países do Norte da Europa, e Europa Central) o enterro acontece dias ou semanas depois do falecimento. Isso permite tempo para a família organizar a cerimônia, convidar parentes que moram longe, etc. No caso de Please Like Me, a família se despede do caixão na igreja e não o seguem até o cemitério. Um dos aspectos da distante Austrália, que pouco conhecemos e a série mostra. Please Like Me pede no título por algo que foi fácil fazer: gostar de Josh e torcer por ele.