Nesse tempo tão cheio de tragédias e notícias ruins tenho tentado me afastar de filmes tristes, ou que tratem de doenças incuráveis. Acabo dando preferência a temáticas mais leves, ou então um policial cheio de ação, ou ainda outros com zumbis, vampiros, e outros elementos de fantasia. Fica mais fácil ver os noticiários que já tem tanto drama. Mas, meu amigo José Augusto Paulo assistiu esse drama de 2016, chamado Other People (Outras Pessoas), que está disponível na Netflix. O filme tem até atores que gosto muito, como Molly Shannon, que ganhou o Independent Spirit de coadjuvante por esse papel. Mas, no meu caso, vai ficar numa lista para ver só depois que a pandemia acabar.
Other People
Cada vez que via uma chamada para Other People (Outras Pessoas), eu notava os dois atores principais e só me lembrava deles em outras produções (Jesse Plemons em Fargo e Molly Shannon em Saturday Night Live, coisas completamente diferentes). Até que um dia li que o filme era de Chris Kelly (produtor, ator e diretor de The Other Two) e que tinha muito de autobiográfico. Agora, curioso e interessado, decidi ver o filme.
Na história dessas outras pessoas, temos David (Jesse Plemons) recentemente separado de seu parceiro, em um momento da vida em que nada está dando certo. Ele retorna para a casa de sua família para ficar com sua mãe (Molly Shannon) durante o ano de tratamento, até ela desistir de sua luta contra o câncer e morrer lentamente. O relacionamento de David com sua família é, na melhor das hipóteses, tenso (especialmente em relação ao pai – Bradley Whitford, de The West Wing) por causa de uma aparente dificuldade em aceitar sua homossexualidade. Embora o assunto seja genuinamente angustiante, a morte de sua mãe, em última análise, ajuda a restaurar seus laços familiares para que ele se torne uma parte integrante da unidade familiar novamente
O filme começa demonstrando o quanto David se sente inadequado e ainda mais quando de volta a um círculo de disfunções familiares. Nas conversas que tem com um amigo de infância (Kevin Dorff), também gay, mas que ficou na cidade onde cresceram, ele desabafa, tentando recomeçar um ano de fracassos, e tenta seguir seus conselhos.
A crítica
Um roteiro enxuto, sem excessos, com uma atuação bem pontuada (Sissy Spacek foi convidada para fazer a mãe de David, mas teve de recusar o que deu a Molly Shannon a oportunidade de variar em um papel que vai do humor à tragédia). Uma produção que cria um ambiente familiar de várias cores em contraste com os relacionamentos sem muita vida, e uma fotografia sem muito movimento, que permite ver a situação de outro ângulo e explorar os cantos de tela quando não centrados nos personagens. A textura do início é fria, como as situações no enredo. Mas logo vão se tornando mais harmoniosas e calorosas enquanto os desafios crescem. E no final. torna-se mais um filme sobre uma trama familiar, mas sem clichês e sem dramas desperdiçados.