Quando era menina, acompanhava com minha mãe, os concursos de beleza, conhecidos como “concursos de miss”. Adorava ver aquelas mulheres lindas de todo o mundo desfilando com roupas maravilhosas. Ao assistir Mulheres ao Poder, que estreia no Telecine nesta segunda (8)às 22 horas, lembrei muito dessa época. Há inclusive uma cena de uma garotinha, que faz o papel da filha de Sally (Keira Knightley), assistindo ao concurso com um olhar de deslumbramento. Me identifiquei nessa história.
O filme é uma produção de 2020, com um elenco incrível, uma produção de primeira linha. E ainda uma temática extremamente relevante nos dias de hoje. Ele segue duas histórias paralelas, que se reunirão ao final. É tudo baseado num acontecimento real. No dia 20 de Novembro de 1970, um grupo de feministas interrompeu o evento do concurso Miss Mundo, que acontecia no Royal Albert Hall, em Londres. O intuito era chamar a atenção para o domínio do patriarcado e, mais ainda, para a forma como esse tipo de concursos fomenta a objetificação da mulher. O anfitrião do evento era o comediante Bob Hope. E a audiência do concurso era de 100 milhões de espectadores no mundo.
No filme acompanhamos a história de Sally Alexander, uma professora que sempre lutou com o machismo para alcançar seus objetivos. Num belo dia, ela conhece um grupo de mulheres feministas que gostam de tomar atitudes chocantes. E se envolve com elas. É quando vem a ideia de fazer um protesto durante o concurso de Miss Mundo. Ao mesmo tempo, as misses chegam a Londres de seus países. É quando conhecemos algumas delas, como a favorita, Miss Suécia, a perspicaz Miss Granada, Jennifer Hosten (Gugu MBatha- Raw) e também as duas misses representantes da África do Sul.
A crítica
São duas porque o momento do apartheid estava no auge. Então os organizadores do evento resolvem ter a Miss negra Sul da África, e a branca, Miss África do Sul. Você vai se surpreender de reconhecer a Princesa Diana de The Crown, Emma Corrin, em poucas cenas. Com isso, o filme toca em diversos problemas da época, não só o machismo, mas também o racismo da história. Mas há um reconhecimento de uma situação que não é muito abordado, e que eu achei extremamente relevante. Há uma cena, quase no final, em que Sally e Jennifer falam sobre a situação e sobre os pontos de vistas de ambas. Não vou entregar aqui o que acontece, mas é a cena que ficou em minha cabeça, e que para mim, define o filme. Positivamente.
Mas Mulheres ao Poder tem vários outros momentos emocionantes, e brilhantes. A discussão entre mãe e filha, evidenciando as difernças de geração e pensamentos. A banca de examinadores logo no início. A mulher de Bob Hope (Greg Kinnear) recebendo a notícia do problema no concurso, um momento perfeito de Lesley Manville. Todos os momentos de dúvida, medo e incômodo das misses. O filme me impressionou por um roteiro muito bem acabado, e também a direção de Phillipa Lowthorpe. Há varias cenas em que nem é preciso uma fala, somente o olhar da câmera para essas mulheres incríveis.
E a Miss Brasil?
Ao final, o filme mostra vídeos ou fotos atuais dos principais personagens dessa história. Isso proprociona uma grande emoção quando ficamos sabendo os caminhos de cada uma delas. Fiquei curiosa para saber mais sobre a história, e logo que terminei de assistir ao filme, fui pesquisar mais sobre o que aconteceu. E fiquei surpresa sobre a participação da Miss Brasil da época, a paulista Sonia Yara Guerra. Ela aparece quase como uma extra no filme. Ficou em sexto lugar no concurso. Sonia participou há pouco tempo da final de mais um concurso de beleza.