Na sexta-feira pré-Oscar, eu já estava resignada que um filme iria faltar para que eu tivesse visto todos os concorrentes das principais categorias. Era Estados Unidos vs. Billie Holiday, que tinha uma única indicação: melhor atriz para Andra Day. Mas, ao entrar na Amazon para ver o último episódio da 1ª temporada de O Internato: Las Cumbres, de repente me surpreendi ao encontrar o filme lá. Tinha recém entrado no serviço. Só que para quem queria relaxar com uma série bem distante da realidade, foi um choque. Estados Unidos vs. Billie Holiday tem violência, drogas (com cenas bem realistas), comportamento destrutivo e injustiça. É duro e difícil de ver.
A história
O filme conta a história de uma das maiores intérpretes da história da música. Billie Holiday tinha uma voz inigualável, uma grande presença de palco, mas também uma personalidade destrutiva. O período de sua carreira, anos 40 e 50, também não ajudava. O racismo estava sempre presente. E o FBI não gostava de Billie. Achava que ela incitava a revolta da população negra, especialmente com sua canção Strange Fruit. Esta falava sobre o linchamento dos negros no sul do país.
Para evitar que Billie cantasse a música, Harry J. Anslinger (Garret Hedlund), chefe do Departamento de Narcóticos, resolveu persegui-la por causa de seu vício. Para isso, chama um agente, também negro, Jimmy Fletcher (Trevante Rhodes, de Moonlight) para segui-la e se aproximar dela. O objetivo: saber de todos passos de Billie para poder prendê-la e calar sua voz.
A crítica
O filme ainda inventa uma relação amorosa entre Jimmy e Billie, que não houve na vida real. Mas, é possível entender essa licença poética do diretor Lee Daniels. O problema do filme é outro. Como vários filmes que falam sobre grandes talentos , ele se concentra muito mais no lado viciado, problemático do que propriamente na genialidade do intérprete. No meu ponto de vista, Billie é mostrada como uma mulher que estava muito mais interessada em se drogar do que em seu grande talento. Isso sem contar as cenas de violência contra ela, vinda de todos os lados.
Na verdade, o filme segue duas linhas paralelas. A história de Billie e a de Jimmy. O ponto é que Jimmy é considerado um traidor de sua raça por ter feito o jogo do FBI, e armado contra Billie. E esse apresenta um outro problema de estrutura. A edição é péssima, com situações repetitivas, personagens que desaparecem (Natasha Lyonne, como Tallulah Bankhead), e falta de conexão entre os saltos no tempo.
Andra Day
É provável que por esse motivo o filme acabou não levando nenhuma indicação ao Oscar além da de Andra Day. Nem mesmo trilha sonora, o que seria uma obviedade. Aliás, perto das críticas americanas, a minha é até elogiosa, rs. E nesse momento, é preciso falar sobre Andra Day. Ela é cantora, e este é seu primeiro filme. E realmente ela arrasa. É a própria Andra que canta todas as músicas, imitando a voz de Billie. Diz a lenda que ela teria fumado muito, tomado muito gelado, para deixar a voz mais rouca. Andra inclusive foi uma surpreendente vencedora do Globo de Ouro, logo no início da temporada de Premiações.
Mas aí eu a vi no Oscar, dando entrevistas, e mesmo brincando com Lil Rel Howery durante um sketch na festa. E ali percebi que o jeito dela não era muito diferente do de Billie no filme. Tinha muito dela naquela Billie Holiday. É por isso que tenho restrições em premiar atores por seu primeiro papel. Nesse momento, a gente nunca sabe o quanto é atuação e o quanto é real.
O Ocaso de uma Estrela
PS – Em 1972, Diana Ross estrelou O Ocaso de uma estrela, sobre a vida de Billie Holiday. Ela também concorreu ao Oscar pelo papel. Eu nunca vi, ele não está disponível no streaming. Mas fiquei com muita vontade de assistir.