Vejo poucos documentários, infelizmente. A quantidade de filmes e séries que são lançados me impedem de abrir um pouco mais o leque de conteúdos. Mas, a boa notícia é que, com o streaming, hoje em dia temos muito mais acesso a esse tipo de conteúdo. Meu amigo José Augusto Paulo assistiu e gostou bastante de Amend: The Fight for America. Ele está disponível aqui na Netflix com o título de EUA: A Luta pela Liberdade. São seis episódios que tem a participação de vários atores. Will Smith é o apresentador. Mas também estão no documentário Helen Hunt, Laverne Cox, Mahershala Ali, Diane Lane, Pedro Pascal e vários outros.
EUA: A Luta pela Liberdade
Acidentalmente assisti ao trailer. Achei que era uma forma mais dinâmica de tratar um tema triste, pesado, e decidi arriscar. E nessa, o ritmo de cada episódio, as formas como textos eram lidos, cenários elegantes de cores escuras, e fotografias, muitas fotografias, foram me fascinando. E acabei assistindo a série toda.
Eu gosto de documentários. Portanto, por vezes, aguento bem os que parecem mais ‘secos’ em termos de entretenimento e mais carregados de fatos. No caso de EUA: A Luta pela Liberdade, há um bom equilíbrio entre as duas partes. Não chega a ser um docu-drama. Embora excelentes atores nos recitem cartas, discursos e textos legais com uma boa dose de interpretação.
Basicamente, o título se refere a Emenda 14 da constituição americana. Esta estabeleceu e expandiu a ideia de cidadania. Trouxe outras etnias para serem cidadãos com os privilégios e direitos que antes somente os caucasianos tinham. O título pode ser também um jogo de palavras. Afinal, ‘amend’ pode ter o sentido de consertar, de melhorar algo. E indiretamente, de pacificar uma situação.
EUA: A Luta pela Liberdade cobre, em essência, o período do início da Guerra Civil nos EUA até os Direitos Civis nos anos 1960. Passa pela Reconstrução, a criação da politica de Segregação como forma indireta de substituir a escravidão. E conta ainda com alguns relatos de época e dados sobre a violência e a falta de punição para os mais variados crimes. Depois retorna ao século 19 para cobrir também os imigrantes, as mulheres e a comunidade LGBT. E como estes conseguiram seus direitos pela mesma rota de se basear na Emenda 14.
Para entender…
Entender o que traz a raça negra nos EUA a ter movimentos como Black Lives Matter, no século XXI é uma das coisas que esse documentario ajuda a fazer. Mas ele vai mais além. Explica como o Sul dos EUA, derrotado na Guerra Civil, criou essa idéia do ‘paraíso perdido’. E fez com que milhões ainda creiam, mais de cem anos depois, no ‘legado’ a que o Sul tem direito. Ou mais precisamente o que os brancos do Sul julgam ter direito. Nisso, se torna um programa interessante. Especialmente ao ver como uma imagem falsa e sem baseamento histórico pode ser tomada como justificativa para evitar confrontar a realidade criminosa do preconceito.
Também menciona como a lutas pelos direitos das mulheres e dos imigrantes não se uniu à luta contra o racismo desde o começo. E por causa disso, fragmentou mulheres e imigrantes em sub grupos. Tudo contado com excelentes imagens e textos.
Will Smith conduz bem o andamento de cada episódio. Junta um pouco de humor e de sarcasmo. E, com frequência nos faz pensar. Infelizmente, os que creem no ‘legado do Sul’ jamais contemplariam sequer assistir o programa. Mas, para quem quer entender melhor os conflitos raciais e a luta para que a Emenda 14 fosse compreendida em sua essência liberadora e democrática, é um programa essencial.