Há muitos anos, eu vi uma minissérie que até hoje é uma das coisas mais assustadoras que já assisti. Se chama A Tempestade do Século. Contava a história dos habitantes de uma ilha, que vai receber uma grande tempestade. Ao mesmo tempo, um estranho chega para mudar a vida de todos. Infelizmente, não está disponível em nenhum streaming atualmente. Mas ela foi lançada em VHS na época, e eu fiquei com um pack. Transformei em DVD, e fiquei com vontade de rever, especialmente após assistir Missa da Meia-Noite. Essa minissérie estreou no último fim de semana na Netflix. Tem sete episódios de cerca de uma hora cada. E assim como em A Tempestade do Século, o fanatismo e a reação das pessoas me assustam muito mais do que demônios e vampiros.
A história
Em Missa da Meia-Noite, Riley Flynn (Zach Gilford) retorna para sua cidade natal , a ilha Crockett, depois de anos. Ele esteve preso após matar uma jovem quando dirigia bêbado. No mesmo dia, chega também à ilha o jovem padre Paul (Hamish Linklater). Ele é um homem carismático, que diz que veio para substituir o padre local, que está se recuperando de uma doença no continente. Só que a partir da chegada dos dois nessa comunidade costeira e isolada, eventos milagrosos e presságios assustadores começam a acontecer. E isso causa uma comoção entre os moradores da pequena ilha.
A série foi criada por Mike Flanangan. Ele é um novo mestre do terror, responsável por A Maldição da Residência Hill (ótima) e A Maldição da Mansão Bly (média). Segundo, ele mesmo disse em entrevistas, tinha a ideia de fazer Missa da Meia-Noite há muito tempo. Os temas de seus trabalhos anteriores continuam presentes aqui: abuso, vícios, perdas, busca pela redenção. Mas enquanto a ideia central de Residência Hill dizia respeito à família, e Mansão Bly à uma história de amor, aqui o foco dele é a religião. E principalmente o fanatismo.
O que achei de Missa da Meia Noite?
E como disse no início desse texto, nenhum efeito sobrenatural é mais assustador do que palavras de fanáticos. Afinal, estas podem levar as pessoas às ações mais absurdas. A série fala muito sobre isso, especialmente através das palavras de Bev (a maravilhosa Samantha Sloyan). Assim como em The Walking Dead, o sobrenatural em Missa da Meia-Noite é apenas uma desculpa para o real terror que as pessoas infligem umas às outras.
Talvez, pelo trailer, você possa estar esperando algo de dar pulos na cadeira. Não é o caso. Há poucas cenas com esse objetivo – e estas são bem eficientes. A proposta aqui, entretanto, é uma tensão constante, algo que vai deixar você desconfortável em diversos momentos. Há claro, algumas “barrigas”. Há vários diálogos que são praticamente monólogos. Um em especial entre Riley e sua paixão do passado, Erin (Kate Siegel), é especialmente cansativo. Fala sobre a sensação da morte, o que vem depois. Quem não estiver preparado, pode se sentir enfadado.
Mas é também um palco incrível para os atores, todos ótimos. Além de Samantha Sloyan, é preciso ressaltar o trabalho de Hamish Linklater. Ele é um ator geralmente coadjuvante, mas que aqui tem sua grande chance. E sem esquecer Rahul Kohli, como o xerife mulçumano que vive nessa comunidade tão intensamente católica. Todos arrasam. É para conhecer uma série muito diferente de tudo que você tem visto ultimamente na Netflix. Não é fácil, mas é uma experiência especial.