O feriado de Nossa Senhora de Aparecida me parece um bom dia para escrever a crítica do filme de Nossa Senhora de Fátima. Fátima: História de um Milagre vem sendo falado há muito tempo. Mas, como vários outros filmes, a pandemia atrasou o lançamento. O filme estreia nessa quinta nos cinemas. É uma óbvia sugestão para aqueles que creem na história das crianças. Mas também é uma surpreendente crítica aos poderes políticos e religiosos.
O filme começa com um escritor, vivido por Harvey Keitel chegando a um convento em Portugal para conversar com a Irmã Lucia (Sonia Braga). Ele quer saber detalhes sobre o famoso caso das três crianças que viram a Virgem Maria. A partir daí, a trama se transfere para a região onde tudo aconteceu em meio a Primeira Guerra Mundial. Três crianças de Portugal Jacinta, Francisco e Lucia testemunham seis visões da Virgem Maria entre os meses de maio e outubro de 1917. Inicialmente ninguém acredita na história. Nem os pais, nem os habitantes da vila, nem o político, e mesmo a igreja. Até que provas começam a aparecer.
O que achei do filme?
O filme é contado de uma maneira simples, mas emociona. Mostra bem a revolução que a visão das crianças causou na vida delas, de suas famílias, e também da comunidade local. O que me conquistou no filme é que os personagens são bem estruturados e multidimensionais. O prefeito (Goran Visnjic, de Plantão Médico) poderia ser um vilão, assim como a mãe de Lucia (Lucia Moniz, a paixão portuguesa de Colin Firth em Simplesmente Amor). Mas é palpável o desespero e a pressão que movem seus atos. Isso também acontece com o padre local (Joaquim de Almeida). Inicialmente, ele pressiona as crianças a revelar que a história é uma invenção, mas depois é um dos que as defende.
As cenas de 1917 são intercaladas por conversas entre o escritor e Irmã Lucia. Também são uma delícia de ver, o contraponto entre o cético e aquela que crê. Em especial porque há um respeito mútuo entre pessoas que pensam de forma diferente. Mas que tem a inteligência de ouvir em conversar sobre suas opiniões. É uma aula para os dias que vivemos.
Quem é religioso provavelmente vai se emocionar. Quem não é, como é o meu caso, vai gostar da humanidade revelada na história e na forma de contar de Marco Pontecorvo. Isso sem contar a fantástica atuação das crianças, especialmente Stephanie Gil, que faz o papel de Lucia. Sua inocência e crença dão o tom a esse filme tão bonito.
Ao final, o filme mostra as fotos de todos. E também cenas gravadas na época. É uma bela aula de história. Eu já estive duas vezes no Santuário de Fátima, em Portugal. E, mais de 100 anos depois, é impressionante ver como a história dessas crianças continua a emocionar milhares e milhares de pessoas. Vale conhecer!