Ridley Scott é quase sempre referência quando se fala em um espetáculo grandioso. Já foi indicado quatro vezes ao Oscar, uma delas por Gladiador. Já ganhou um Emmy por O Homem que Mudou o Mundo. E outro pelo documentário Gettysburgh. Em ambos, era o produtor. E o seu primeiro prêmio foi em Cannes, justamente com um filme que falava sobre um duelo, Os Duelistas (não disponível no momento em streaming). Agora, aos 84 anos, ele volta ao tema com O Último Duelo, que estreia nessa quinta (14) nos cinemas. E que espetáculo!
O letreiro que dá início ao filme já avisa que ele é baseado numa história real. Baseado no livro de Eric Jager, mostra o que teria provocado o duelo entre o cavaleiro Jean de Carrouges e o escudeiro Jaques Le Gris. Este último é acusado de ter estuprado Marguerite, a esposa do cavaleiro. A luta, estabelecida pelo próprio rei da França, Carlos VI, marca o grande drama de vingança e crime do século XIV. O interessante da produção, é que no estilo de Rashomoon, ele conta as diferentes versões dos três envolvidos.
O que achei de O Último Duelo?
O interessante aspecto do roteiro é um triunfo para o filme. Ele é o primeiro trabalho conjunto de Ben Affleck e Matt Damon desde que ganharam o Oscar por Gênio Indomável lá em 1997. Eles tiveram ainda a delicadeza de chamar Nicole Holofcener para ajudar na perspectiva feminina do roteiro. E isso é bem claro na história. Mostra exatamente como esse homens egocêntricos faziam e desfaziam das mulheres na época. Tudo com o apoio da igreja católica. Há um momento que deixa isso especialmente claro. Ao se confessar a um padre que o está ajudando, que não cometeu um estupro , e sim adultério, Le Gris ouve o seguinte. “Estupro não é um crime contra a mulher. É um problema de propriedade!”
É uma aula de cinema perceber as pequenas – e outras maiores – diferenças entre as versões do três. A mais flagrante dela é a cena do estupro. Da versão sensual de Le Gris para a versão aterradora de Marguerite. Até a perda de um sapato é totalmente diferente apesar de similar. A isso tudo se junta uma fotografia toda em tons cinzentos, figurinos maravilhosos, uma trilha potente. Além disso, o duelo em si, um espetáculo de brutalidade. Me lembrou muito A Batalha dos Bastardos de Game of Thrones. Aliás, eu tive o prazer de conversar com Dariusz Wolski, Janty Yates, e Harry Gregson-Williams, responsáveis por essa parte técnica do filme. Falamos muito sobre os vários aspectos da produção e ainda como é trabalhar com Ridley Scott. A entrevista em vídeo sai essa semana. Aguarde!
O elenco
E, é claro, é impossível não falar do elenco. Jodie Comer, como Marguerite, está em várias listas de possíveis indicadas ao Oscar. Seu rosto passa pelas mudanças mais sutis, mas que não passam desapercebidas. Adam Driver, está ótimo, como sempre. Confesso que é um pouco difícil de aceitar Matt Damon e Ben Affleck, que tem rostos tão “modernos” como homens da idade média. Entretanto, Ben está bem divertido. Ele deveria fazer o papel de Le Gris, mas acabou ficando com o papel menor de Pierre por causa de agenda. Foi uma boa mudança.
No final, O Último Duelo começa um pouco para começar. Mas quando engrena, você nem sente as duas horas e meia de duração. Vale a pena ver! Especialmente no cinema, por causa da grandiosidade das cenas do duelo!