Sou fã dos livros de Agatha Christie, especialmente aqueles com o detetive Hercule Poirot. Sempre gostei de sua ironia, da perceber a forma como sua mente trabalhava. Creio que ele teve brilhantes interpretações não só de Albert Finney na versão de 1974 de Assassinato no expresso do Oriente, como também a de David Suchet na série de TV. Kenneth Branagh é também um óbvio apaixonado por Poirot. Tanto que dirigiu e estrelou a recente versão de Assassinato no Expresso do Oriente. E agora repete a dose em Morte no Nilo, que estreia nessa quinta nos cinemas. O problema é que ele repete também os mesmos deslizes nos dois filmes.
Primeiro a história. Boa parte da trama acontece na viagem de comemoração do casamento do casal Linnet Ridgeway (Gal Gadot) e Simon Doyle (Armie Hammer) pelo Rio Nilo. Eles convidaram os amigos para embarcar no barco Karvak e celebrar a união do casal. Entre os convidados está o mais famoso detetive do mundo, Hércules Poirot. Só que um assassinato acontece e quase todos os passageiros têm motivos para ser o culpado. É quando Poirot dá início às Investigações no próprio barco. Mas novas mortes acontecem com o intuito de encobrir a verdade. E o caso acaba sendo mais difícil de se solucionar a cada minuto que passa.
Morte no Nilo sofreu vários adiamentos em sua estreia. Era para ter estreado Inicialmente em 2019. Mas atrasos na filmagem acabaram postergando para 2020. Aí veio a pandemia, e também novas datas. Até que resolveram lançar no segundo semestre de 2021. Só que então estourou o escândalo de Armie Hammer. Foi quando finalmente programou-se para o início de 2022. Essa provavelmente será a última vez – pelo menos em muito tempo – que você ver á um novo filme com o ator. Ele foi despedido de todos os projetos que tinha envolvimento graças ao escândalo de estupro e assédio.
O que achei de Morte no Nilo?
Falando de Morte no Nilo, não vou fazer comparações com o filme de 1978. Ele está disponível para aluguel ou compra na Apple TV e Google Play. São filmes para épocas e públicos diferentes. Começo dizendo que essa nova versão é visualmente muito bonita. A fotografia é linda, direção de arte e figurinos, idem. O filme começa com uma sequência lindamente filmada que se passa na I Guerra Mundial. Só depois de um tempo, ficamos sabendo que se trata da explicação sobre o bigode de Poirot. E com isso, Branagh faz mais uma vez o que já havia feito antes. Ele quer que o público conheça mais sobre Poirot. Quer que ele saiba o que se passa por trás de sua mente. Mesmo que isso custe muito para o timing de sua história principal, ou seja a investigação de um assassinato. Agatha Christie com certeza não gostaria disso, rsrs.
O filme custa a engrenar. Apesar de ter uma cena de dança no início de Armie Hammer com Emma Mackey (de Sex Education) que é sexy ao extremo. Aliás, Emma é a grande revelação do filme. E consegue brilhar muito, especialmente no “combate direto” com Gal Gadot. Eu adoro Gal, mas ela faz sempre o mesmo personagem, com as mesmas expressões.
O elenco é ótimo, mas não tanto quanto o de Assassinato no Expresso do Oriente. Se destacam Annette Bening, Letitia Wright, Tom Bateman, e até Russel Brand. Confesso que ele está tão diferente que quase não o reconheci. Só Sophie Okonedo está exagerada como sempre. Pena! Mas há aqueles que não tiveram grandes chances. É o caso de Jennifer Saunders e Dawn French, parceiras na série de comédia French and Saunders (disponível no Belas Artes a la Carte). E também de Rose Leslie, de Game of Thrones.
E o bigode?
Mas, é claro, Branagh é um bom diretor, sabe usar uma câmera com maestria. Mas o roteiro, e sua vontade de que conheçamos mais Poirot, torna o filme cansativo. Aliás, uma pergunta, por que o bigode de Poirot mudou de cor de um filme para outro? Era branco para combinar com a neve em Assassinato no Expresso do Oriente? E agora está amarronzado por causa das águas do rio? Rsrsrs!