Desde que a temporada de premiações começou, a gente vem ouvindo falar da atuação de Danielle Deadwyler em Till – A Busca por Justiça. O filme estreia nessa quinta nos cinemas por aqui, e é possível ver a razão de todo esse buzz. Ela realmente está sensacional. Digna, pronta a explodir a qualquer momento pela revolta, tristeza e vazio. Deveria ter sido indicada ao Oscar – infelizmente ficou de fora. Mas o filme não é só para ser visto por causa da atuação de Deadwyler. É uma história forte, triste, revoltante – e muito bem contada.
O roteiro se baseia em um fato real. Mostra o que aconteceu com o garoto de 14 ano, Emmett Till, e a luta de sua mãe, Mamie Till. Em 1955, Emmett Till viajou de Chicago para o Mississippi para visitar seus primos. Antes disso, sua mãe lhe disse para tomar cuidado no estado do sul. Afinal, lá o racismo imperava fortemente. E ele receberia um tratamento diferente do que em Chicago, por ser negro. No estado do sul, o garoto e seus parentes pararam em uma loja de conveniência, onde a frentista e dona da loja, a branca Carolyn Bryant, alegou que ele lhe assobiou para ela, deixando-a desconfortável.
Mais tarde, dois homens brancos raptaram o menino de quatorze anos. Eles o mataram, lincharam, amarraram seu pescoço com arame farpado e jogaram seu corpo fora por conta do que, supostamente, teria feito. Dias depois sua mãe receberia o corpo em Chicago. Lá, ela mostrou para todo mundo o estado mutilado e inchado do corpo. A morte de Emmett Till posteriormente ajudaria no Movimento dos Direitos Civis.
O que achei do filme?
O filme tem uma sensacional reconstituição de época. A trilha sonora – ou a falta dela – ressalta todo e cada momento dessa história que provoca grande agonia. A diretora e co-roteirista Chinonye Chukwu sabe colocar sua câmera de forma a mostrar o que todos sentem – em alguns momentos a revolta, entre outros o suporte e a resignação. Da mesma forma, há cenas que vão fazer você chorar, outras revoltar. Há algumas simplesmente tocantes como a revista na entrada do julgamento, a visão do corpo de Emmett, a reação da tia no funeral (Keisha Tillis). E, claro, especialmente a frase do tio Moses (John Douglas Thompson) : ” não eram somente dois homens com armas naquela noite. Era cada homem branco que preferia ver um homem negro morto do que respirando o mesmo ar que ele!”.
O filme tem ainda no elenco as participações de Hayley Bennett e de Whoopi Goldberg, esta também produtora. É uma história que infelizmente ainda é atual. Somente mais de 60 anos depois de sua morte, Emmett Till deu nome a uma lei anti-linchamento, que foi promulgada em 2022, e que considera o linchamento um crime de ódio federal. O filme termina mostrando o que aconteceu com cada um dos envolvidos nessa história. E deixa você com um nó na garganta. Um grande filme para mostrar uma história que todos devem conhecer – e não esquecer.
Há também uma minissérie chamada Mulheres em Movimento, de 2022, que conta essa mesma história. Está disponível na Globoplay, e tem Adrienne Warren (de A Mulher Rei), como Mamie Till.