Close, uma co-produção da Bélgica, Holanda e França, concorre ao Oscar de filme estrangeiro pela Bélgica. Tem pouca chance de levar a estatueta. Esta deverá ser disputada por Nada de Novo no Front (Alemanha) e Argentina 1985 (Argentina), com o favoritismo pendendo para o alemão. Entretanto, o filme, que estreia nessa quinta nos cinemas, é uma bela experiência cinematográfica. É bonito – e doloroso – e tocará as pessoas de diversas maneiras. Eu ia escrever a crítica, mas meu amigo José Augusto Paulo me mandou esse texto tão bonito, que resolvi publicar a análise dele. Leia abaixo:
Close
Vez por outra aparecem filmes que refletem sobre um período especifico da vida humana. Muitos se concentram nos anos da adolescência, e outros na infância. Este filme escrito e dirigido por Lukas Dhont se baseia justamente no período entre infância e adolescência. Talvez por isso prenda a nossa atenção. Pode até causar incômodo em nossas memórias íntimas, dado que vários de nós passaram por algo semelhante ao da história.
Dois garotos crescem juntos numa bucólica parte rural da Bélgica (nada fácil de identificar dado que quase todos os personagens falam tanto francês como flamengo). Eles são muito próximos. Aos treze anos, os dois começam em outra escola, um pouco mais distante de onde moram.
Ali, o tipo de amizade que eles tem (comum onde cresceram dado que a família de ambos é muito dada a abraços, aconchegos, a sentarem-se e mesmo dormirem muito próximos) gera uma estranheza por parte dos novos colegas. Estes chegam mesmo a perguntar se os dois seriam um casal. Um deles é Leo (Eden Dambrine em seu primeiro filme – o diretor se sentou em frente a ele e amigos em uma viagem de trem e imediatamente sentiu que havia encontrado a pessoa ideal para viver o personagem). Para ele, isso se torna um divisor de águas. É quando ele começa a tomar uma certa distância de Remi (Gustav de Waele, que, embora nascido no Reino Unido, é um modelo e ator conhecido na Bélgica, especialmente pela serie Quotidien) que estranha o comportamento avesso do amigo. A amizade termina de forma inesperada.
A análise
O filme mostra mais os tormentos de Leo em entender a relação entre como passou a tratar o amigo. E ainda a pressão social dos novos colegas e como lidar com as consequências. As sequências são muito bem pensadas. O diretor escolhe bem cenas que mostram que, no ambiente da escola, aceita-se que Leo seja afetuoso com o irmão mais velho. Mas não com quem não é de sua família, o que ele decodifica sem contestar.
A fotografia é simples, mas bela. Especialmente ao mostrar os campos e o que seria o ultimo verão de inocência dos dois garotos. Então progride para o outono na nova escola, um inverno difícil em termos emocionais e termina quase na primavera. A câmera, por boa parte do tempo, simplesmente segue os personagens em seus caminhos ou dentro dos cômodos das casas. O diálogo pode parecer simples e mínimo. Mas reflete também a realidade do ambiente rural onde trabalha-se muito, mas fala-se pouco.
E, no final…
É difícil assistir ao filme sem pensar em quando esse tipo de situação se passou com cada um de nós. Se fomos mais como o Leo ou como o Remi. Isso porque é um momento que quase todos nos vivenciamos. Aquele momento em que deixamos de brincar com crianças do mesmo sexo e começamos a nos interessar pelo sexo oposto. Com os hormônios em ebulição, por vezes nem notamos como tratamos os ex-companheiros de todo dia assim como buscamos confirmação de novos amigos, sobre o nosso lugar no jogo dos sexos.
Me parece que o filme é o momento de reflexão de Lukas Dhont. Mas tem feito muitas plateias refletirem, especialmente depois que o diretor recebeu o Grande Prêmio do Júri do Festival de Cannes. Close tem sido indicado para todos os grandes festivais europeus, e agora com o Oscar, o filme ganhou ainda mais visibilidade. Assista, reviva e aceite que às vezes erramos cegos pela busca da aceitação.
