O Mauritano foi um daqueles casos de filmes que eu queria muito ver, mas por uma razão ou outra, nunca assisti. O filme foi indicado ao BAFTA, Jodie Foster ganhou o Globo de Ouro de coadjuvante, entre outros. É baseado em uma história real. Meu amigo José Augusto Paulo assistiu, e escreveu um texto sobre ele. O Mauritano está disponível por aqui na Globoplay.
O Mauritano
Já se passaram 21 anos do atentado contra as torres gêmeas e o Pentágono. Toda uma geração não vivenciou aqueles dias, suas mudanças e as armações de um governo disposto a tudo para mostrar que havia capturado e sentenciado todos os envolvidos. E hoje em dia quase não se fala mais de Guantanamo. É interessante que alguns ainda pensam que foi parte da tentativa dos EUA invadirem Cuba em 1961. Mas, na verdade, a Baia foi ocupada na Guerra contra os espanhóis em 1898 e ‘alugada’ pelo governo Cubano – digamos cedida – alguns anos mais tarde. Por tudo isso O Mauritano é um filme que chega em boa hora para lembrar o que um governo sem muita transparência em suas ações pode causar de dano em indivíduos assim como em sua reputação como defensor da lei e da ordem.
A história
O filme conta a historia de Mohamedou Ould Slahi (o excelente Tahar Rahim , de A Serpente). Este é preso na sua nativa Mauritânia, sem acusação especifica. Vai então preso em cativeiro em diversas locações até chegar a Guantanamo. Sua acusação é ser um dos recrutadores dos terroristas envolvidos nos atos de 2001. É quando o governo dos EUA decide levá-lo a julgamento (com o objetivo de conseguir com que receba a pena de morte). Só que uma advogada conhecida pelo seu envolvimento em casos de direitos civis, Nancy Hollander (Jodie Foster), se interessa pelo seu caso. Começam então os primeiros contatos com o prisioneiro e depois com o oficial encarregado do caso pela procuradoria, Stuart Couch (Benedict Cumberbatch).
É na busca por maiores informações, de forma a poder formar o caso contra ou a favor, que ambos, a advogada e o oficial, acabam descobrindo o que aconteceu com Mohamedou desde sua prisão. Como é um caso verídico, sabemos como a história termina. Mas é no processo de descobrir a verdade, apesar dos absurdos que acontecem durante o tempo em que o cativo esteve sob a jurisdição dos EUA, que o filme se concentra. Não deixa de lembrar, com um certo ênfase, que Mohamedou poderia ter sido liberado mais cedo. Entretanto, a administração de Barack Obama, o manteve preso por sete anos a mais do que o necessário. É este tipo de filme; que mostra como as coisas foram e não como gostaríamos que tivessem sido.
E no final…
Uma produção excelente que cria os espaços em Guantanamo de forma claustrofóbica, sufocante, assim como os escritórios e arquivos de forma fria. A fotografia usa muito de luz e sombra como que por vezes querendo esconder Mohamedou. E por vezes parece querer trazê-lo à plena luz. As atuações são boas, bem dirigidas, cortantes até. A mensagens parecem ser que não nos devemos esquecer desses desvios da normalidade. Assim como por vezes esquecemos que a Mauritânia e e os Mauritanos existem.