No jargão cinematográfico, filme pequeno quer dizer “de baixo orçamento, destinado a um público que gosta de cult movies, mais dramáticos, e ditos mais artísticos”. Pois bem, levando isso em conta, nessa semana, dois filmes que se encaixam nessa descrição estreiam no cinema. São eles o nacional Tia Virgínia e a coprodução Inglaterra/Grécia, How to have sex. Gostei muito de um, e achei o outro deprimente demais. Mas, já aviso, se você se interessar, corra para o cinema, porque em geral, esse tipo de filme não fica muito tempo em cartaz.
Tia Virgínia
Esse é o que achei deprimente. O filme conta a história de três irmãs que se reúnem pela primeira vez no Natal após a morte do pai. A mãe está de cama, e não fala, nem se movimenta. Virginia (Vera Holtz) é a que mora com ela. As duas irmãs, Valquíria (Louise Cardoso) e Vanda (Arlete Salles) chegam com as famílias para a data. Só que as três irmãs tem segredos e mágoas que virão à tona durante o período da festa. E confrontos físicos e verbais se seguirão.
Tia Virgínia desaba então para uma viagem ininterrupta e claustrofóbica de ressentimento, raiva, inveja e amargura. Há somente alguns momentos de humor, que ficam mais a cargo da ótima Daniela Fontan como a sobrinha. Entretanto na maior parte, é uma mágoa só. E o diretor não deixa de mostrar quase somente. Somente uma cena, justamente a mais interessante do filme, é feita a portas fechadas. As três atrizes veteranas estão sensacionais nesse quase teatro filmado. Mas, confesso que foi difícil chegar até o fim (que devo dizer, me parece pouco provável).
How to have sex
Já aviso que o título engana, tá? O filme mostra muito pouco de como ter sexo, é mais um drama sobre três adolescentes britânicas que passam um feriado juntas numa cidade praiana. Elas bebem (muito), vão a boates e namoram naquele que deveria ser o melhor verão de suas vidas. Só que enquanto dançam pelas ruas ensolaradas de Mália, eles se veem navegando pelas complexidades do sexo, do consentimento e da autodescoberta.
O filme passou na mostra Un Certain Regard do Festival de Cannes ( e ganhou o prêmio de direção para Molly Manning Walker). Ele pinta um retrato doloroso da idade adulta jovem e de como as primeiras experiências sexuais deveriam – ou não – acontecer. Tem atuações poderosas do elenco jovem, principalmente a atriz principal. Mia McKenna-Bruce, como Tara, tem um daqueles momentos que transformam uma atriz em estrela (indicada Ao British Independent Awards). Repare na cena do taxi – ela está maravilhosa.
O filme tem uma fotografia sensacional, e um roteiro inteligente. Há momentos que você vai dar risada, outros que vai se revoltar, e ainda alguns para se emocionar. Mas não vai deixar ninguém indiferente no cinema.