Para quem viveu os anos 80, os brucutus, como eram chamados os heróis de ação do cinema, eram um espetáculo à parte. Arnold Schawrzenegger e Sylvester Stallone eram a comissão de frente do gênero. Arnie ganhou uma série documental de três episódios (veja minha análise aqui) na Netflix para contar sua história de vida. Stallone ganhou um filme de 1h30, também na Netflix, que estreou semana passada. Infelizmente, é muito pouco para contar uma história tão rica. Fica uma sensação de frustração ao final do documentário Sly.
A ideia é até boa. Usa a mudança de casa de Stallone – de volta para a costa leste dos Estados Unidos – como o ponto de partida para uma reflexão de sua vida e carreira. Há momentos genuínos de emoção e paixão, como quando o ator relembra a infância e começo difíceis. Stallone teve sempre o dom de contar uma história. Há também participações interessantes de gente como Quentin Tarantino (um óbvio fã), Schwarzenegger (que relembra os tempos de competição entre os dois nos anos 80), e Talia Shire, sua parceira de Rocky. Ainda há o irmão Frank Stallone, e mais alguns outros que falam sobre sua experiência de convivência com o artista e sua obra.
O que achei?
O problema do documentário começa a partir do momento em que ele se torna um astro com Rocky. A descrição de fracasso depois de fracasso até decidir fazer Rocky 2 se torna tediosa (confesso que tive que ver em dois dias diferentes porque me deu sono). E não é só isso, o roteiro dá a entender que a carreira de Stallone basicamente se restringe às suas franquias, Rocky, Rambo e um pouco de Mercenários, no final. De resto, praticamente são lembrados somente o que Stallone julga o pior (Pare senão Mamãe Atira) e o melhor (Copland). Aliás, este é um momento incrível do filme onde ele relata uma cena que fez com Robert deNiro. É sensacional!
Há outros momentos muito bons, quando ele se lembra da relação difícil com o pai (que tinha uma óbvia inveja do filho). E também assumindo erros que ele mesmo fez com sua própria família por sua devoção ao cinema. Especialmente a relação com o filho Sage, que morreu prematuramente (mas Stallone não fala diretamente sobre o assunto). No final, há alguns momentos realmente brilhantes no documentário – especialmente com Stallone e até com Tarantino. Só que falta muita coisa. E por isso me deu uma vontade imensa de um dia assistir uma conversa entre Stallone e Tarantino sobre a carreira do primeiro. Isso sim seria uma coisa beeem legal!