Pobres Criaturas, que estreia no cinema nesta quinta, concorre a 11 Oscars. Se o Oscar fosse justo (pouco provável), levaria a maior parte deles, inclusive melhor filme – e especialmente melhor atriz para Emma Stone. O filme é de uma beleza ímpar, tem uma mensagem interessante, e ainda atuações perfeitas. Talvez suas duas horas e meia não sejam para todos os gostos. Mas ninguém vai deixar de rir, de ficar chocado. E ainda admirar esse belo trabalho do diretor Yorgos Lanthimos (A Favorita) , que já recebeu vários prêmios.
O roteiro se baseia no livro homônimo de Alasdair Grey e tem uma clara inspiração na história do clássico Frankenstein. Tudo se passa na Era Vitoriana e acompanha Bella Baxter (interpretada por Stone), trazida de volta à vida após seu cérebro ser substituído pelo de um feto, seu filho que ainda não nasceu. O experimento é realizado pelo doutor Godwin Baxter (Willem Dafoe), um cientista brilhante, porém nada ortodoxo. A trajetória de Bella segue com o descobrimento de seu próprio corpo, do prazer, e ainda sua curiosidade árdua pelo dia a dia e pelas reações das pessoas.
O que achei?
O filme é uma mistura de comédia, terror, ficção-científica, tudo muito bem dosado. A parte técnica é sensacional. A direção de arte é inigualável. Os figurinos, a fotografia, idem. A história se divide em vários capítulos que vão mostrando a localização geográfica de Bella. O roteiro mostra Bella como uma pessoa que vai “crescendo” com um olhar sem censura. Com isso, exerce um fascínio sobre todos que cruzam o seu caminho.
Isso faz com que Emma Stone tenha uma das atuações mais livres e desavergonhadas que já vi na vida. Bella começa como um bebê ainda com dificuldades de andar, e de se comunicar. Vai crescendo aos poucos. A atriz não tem medo do ridículo, e muito menos de mostrar seu corpo. É uma atriz entregue ao seu personagem. Espero sinceramente que o Oscar esqueça a politicagem, e premie – pelo menos uma vez – a verdadeira melhor atriz.
O resto do elenco está divertido. Mark Ruffalo, que também concorre como coadjuvante, parece um personagem de história em quadrinhos. Passa de vilão a bufão com grande competência. Willem Dafoe, com a figura mais trágica da história, também está sensacional (também merecia uma indicação). Há ainda uma participação maravilhosa da grande atriz alemã Hanna Schygulla. Obviamente ela está com problemas de locomoção, mas isso não é um problema para ela. E isso prova que realmente não existem pequenos papéis, somente pequenos atores. Vale aqui também ressaltar a curiosíssima aparição de Margaret Qualley.
E no final…
Já aviso que é preciso ter uma mente aberta para embarcar na jornada de Bella em Pobres Criaturas. O filme critica uma sociedade hipócrita, não tem medo do ridículo, de aceitar quem é diferente. E claro, enaltece o poder dos livros. O mundo definitivamente precisa de mais Bellas para colocar as coisas nos eixos. Vale embarcar nessa!