Dan Levy não é dos meus atores preferidos. Mas acho que ele está até bem divertido em Alguém Avisa, como o amigo de Kristen Stewart. De qualquer maneira, isso não foi o suficiente para me dar vontade de ver Do Outro Lado da Dor, que estreou há pouco tempo na Netflix. Entretanto, meu amigo José Augusto Paulo assistiu – e gostou tanto – que me deu vontade de ver, rsrs. Veja a crítica dele!
Do Outro Lado da Dor
Já faz muito, muito tempo que temos, quase todos, a tendência de mesclar o artista, como pessoa, com a forma como ele se apresenta em publico. É algo ainda mais intenso no caso de atores. Percebemos algo neste ser humano, no palco ou na tela, que parece nos dar uma impressão completa de quem essa pessoa seja. E se isso já era notável desde os primórdios da imprensa, ficou ainda mais corriqueiro com as redes sociais de hoje em dia. Afinal, por vezes, se está mesmo em contato direto com o artista em si. E quantas vezes nada sabemos, mas nos convencemos de que os conhecemos como se fossem nossos vizinhos de porta?
Digo isso porque sempre tive uma certa antipatia por Dan(iel) Levy. A atitude dos personagens dele sempre me pareceram levemente irritantes. Mas me recomendaram tanto Do Outro Lado da Dor, que achei que poderia arriscar. E nesses tempos de streaming, se o filme começa a me entediar ou irritar dentro daqueles 15 minutos iniciais, eu deixo de assisti-lo. Isso era algo que muito, muito raramente fiz com filmes no cinema. Mas em casa…. O caso é que esse filme recém-lançado sobreviveu ao meu teste. E já se tornou um dos melhores que vi este ano.
Dan Levy produziu, escreveu o roteiro, dirigiu e atuou nos 100 minutos que contam a história de Marc. Para evitar as dores do luto da perda da mãe, embarca em um relacionamento com o carismático Oliver (Luke Evans) – algo que descobrimos enquanto o filme se desenrola. Quando este também morre em um acidente, Marc se vê forçado a eventualmente enfrentar o processo e as dores da perda de alguém que se ama. Durante este tempo, ele descobre que Oliver tinha segredos que ele desconhecia. Marc, então, resolve levar dois amigos, Sophie (Ruth Negga) e Thomas (Imesh Patel), em uma viagem aonde ele pretende esclarecer o que aconteceu. Ao mesmo tempo tenta se livrar da presença constante de Oliver em seu pensamento.
A partir daí…
O desdobramento da história é que Sophie e Thomas, ao parecerem estar simplesmente a apoiar o amigo, na verdade, também têm seus processos de perda a enfrentar. Tudo vem à tona nos dias em que passam em Paris. Pode parecer uma história que já assistimos antes. Só que a força deste filme está nas interpretações bem marcadas assim como nos diálogos, por vezes cortantes, por vezes tristes, mas honestos. Se falha um pouco, seria nos momentos em que a personagem de Ruth Negga (a excelente atriz de Identidade e Loving) parece ter se desorientado no roteiro. Nestes, a personagem se torna quase que dispensável na história. Entretanto, no desenvolvimento, até o final tudo se encaixa melhor.
O que há de trilha sonora tem qualidade, nada intrusiva, ao contrário, adiciona aos sentimentos de cada cena. A fotografia usa e abusa de tons mais escuros e sombras. Mas também dá uma visão correta e clara, que segue a linha dos diálogos. A veterana Celia Imre está excelente como a advogada do casal principal e também dá seus toques nas frases de perda e dor, que por vezes dispensa. Até os eventuais momentos de silêncio parecem estar no momento e na duração mais que correta.
O melhor de Do Outro Lado da Dor é que, apesar do seu tema que permeia quase todas as cenas, não é triste, nem difícil de assistir. Mas nos faz pensar. E muito.