Há alguns anos, fui assistir O Mágico de Oz no Vivo Open Air. E antes do filme, foi exibido um curta-metragem chamado Dá Licença de Contar. Mostrava Paulo Miklos como Adoniran Barbosa. Contava uns “causos” de Adoniran, que foram base para suas músicas. Eu achei ótimo (está disponível no YouTube). Esse curta foi a base para Saudosa Maloca, que estreia nessa quinta nos cinemas. Novamente, o diretor Pedro Serrano e o ator Paulo Miklos se juntam para mostrar mais do universo desse grande nome da música brasileira.
Saudosa Maloca se passa em dois tempos. Num deles, Adoniram já velho conta suas histórias de uma São Paulo que já não existe mais para Cicero (Sidney Santiago), um jovem garçom de um bar. No segundo tempo, ele relembra a vivência na maloca com seus amigos Mato Grosso (Gero Camilo) e Joca (Gustavo Machado), além da paixão deles por Iracema (Leilah Moreno). Com a ajuda do samba, o grupo de amigos sobrevive, mas tem suas vidas ameaçadas quando o bairro do Bixiga começa a passar por grandes transformações e a metrópole é lentamente engolida pelo “pogréssio”.
O que achei?
É claro que o filme tem um apelo para todos aqueles que conhecem o repertório de Adoniran. O roteiro cria falas e apresenta personagens que foram eternizados nos sambas do compositor. Isso inspira sorrisos e uma grande simpatia por todo o projeto. Não sou grande conhecedora da obra de Adoniran, mas é impossível não reconhecer as pistas de Saudosa Maloca, de Samba do Arnesto (essa é a mais divertida), Trem das Onze ou Iracema. É na verdade uma homenagem não só a Adoniran, como também a uma mundo que não existe mais, dos malandros educados e inofensivos. E de uma São Paulo que há muito já se foi.
O elenco está todo muito bem. Gero Camilo e Gustavo Machado divertem como os dois escudeiros Mato Grosso e Joca. Ele são o contraponto para o Adoniran de Paulo Miklos. Adoniran era conhecido como uma palhaço triste, e Paulo Miklos abraça isso perfeitamente. É admirável que ele não tente fazer uma cópia do que era Adoniran, e sim mostrar a sua interpretação de uma figura tão especial.
O filme parece um filme de antigamente, com uma poesia e uma inocência que é reconfortante. Vale a pena conhecer. E eu tive o prazer de conversar com Paulo Miklos sobre o filme, sobre Adoniran, e claro, sobre música. Veja aqui o vídeo de nosso papo.