Já falei aqui que adoro comer, e adoro também ver filmes sobre comida. É o caso de Chef, A Festa de Babette, Sem Reservas, Chocolate, e principalmente Delicioso: Da Cozinha para o Mundo (que pouca gente conhece, mas é maravilhoso – está disponível no Looke, veja a crítica aqui). Há vários paralelos entre Delicioso e O Sabor da Vida, que estreou há pouco tempo na Prime Video. O filme foi o indicado da França para o Oscar deste ano, mas não conseguiu ficar entre os finalistas. Entretanto, seu diretor Anh Hung Tran foi o vencedor como o melhor diretor no Festival de Cannes. Gosto do filme, mas confesso que prefiro Delicioso: Da Cozinha para o Mundo.
A ação se passa em 1885. O Sabor da Vida acompanha a vida profissional de Eugenie (Juliette Binoche), uma conceituada cozinheira, e sua relação com Dodin (Benoît Magimel), um chef gourmet, com quem trabalha há 20 anos. Os dois vivem juntos, trabalham juntos, e são claramente apaixonados. Sua parceria dá origem a pratos deliciosos que impressionam até mesmo os chefs mais conceituados do mundo. Eugenie, que sempre priorizou por sua liberdade, não pensa em se casar, então quando Dodin se depara com a relutância de Eugenie em se comprometer com ele. Mas então acontece uma situação inesperada.
O que achei?
Apesar de preferir outro similar, é claro que O sabor da Vida tem momentos deslumbrantes. É o caso da sequência inicial, que acompanha a preparação de uma refeição suntuosa. É deslumbrante, e extremamente bem dirigida. Já valeira o filme. Entretanto, com sua 2h15, ele se torna repetitivo, mesmo em sua grande beleza. A relação entre os dois, apesar de íntima, é cheia de coisas importantes que deixam de ser ditas. E, mais importante, Eugenie tem medo que qualquer mudança possa prejudicar a perfeição do trabalho que fazem juntos. É entendível e comum.
Entretanto, o diretor deixa tudo isso à distância. Tudo é coreografado e perfeito . Isso faz com que a gente sinta uma certa falta de “tempero” em O Sabor da Vida. Isso não tem a ver com as atuações dos atores principais. Benoît Magimel e Juliette Binoche (que foram casados na vida real no passado), são sensacionais. Aliás, isso chega até a ser um problema para o filme. É difícil acreditar que Juliette, sensacional e vivaz como sempre, esteja doente no filme.
E o filme ainda traz uma outra personagem sensacional. É Pauline, a menina que, mesmo tão jovem, já demonstra conhecimento e amor pela cozinha e pela arte da gastronomia. Bonnie Chagneau-Ravoire é ótima, e faz com que a gente queira que ela apareça ainda mais.
A controvérsia do Oscar
O Sabor da Vida foi o indicado para representar a França no Oscar em vez do esperado Anatomia de uma Queda. Na ocasião, várias reações por causa disso aconteceram nas mídias sociais. Muitos diziam que por causa disso a França poderia mais uma vez ficar de fora dos cinco finalistas, o que realmente aconteceu. Enquanto isso, Anatomia de uma Queda concorreu a 5 prêmios no Oscar deste ano, inclusive melhor filme, diretor e atriz. Ganhou o de roteiro original. Muitos dizem que a escolha do comitê francês por O Sabor da Vida se deu porque a diretora de Anatomia de numa Queda estaria sendo “punida” por seu discurso político em Cannes. Na ocasião, ela culpou o “governo neo-liberal” por “promover a mercantilização da cultura” e “quebrar o modelo francês de exceção cultural”.