O tema do adultério, da traição, é uma constante nos filmes de Woody Allen. Analisando sua vida pessoal, é perfeitamente entendível a razão disso, e também o porquê ele também trata os casais traidores com tanta simpatia e carinho. Isso não é diferente em Golpe de Sorte em Paris, o 50º filme do diretor, que estreou hoje nos cinemas. É todo falado em francês, com atores franceses, primeira vez que o diretor faz isso. Muito se deve ao problema de conseguir investidores para seus filmes devido aos seus mesmos problemas pessoais. E também por esse motivo que ele vem se refugiando na Europa para fazer suas produções do jeito que quer. Golpe de Sorte em Paris não um daqueles seus grandes clássicos, mas é um bom filme que tem todas as características de um “filme de Woody Allen”.
Fanny e Jean parecem o casal ideal. Ambos são bem-sucedidos, vivem em um apartamento lindo em um bairro exclusivo de Paris, e vivem em eventos em amigos. Mas um dia, Fanny esbarra acidentalmente em Alain, um antigo colega de escola. Eles logo retomam o contato e se aproximam cada vez mais. E Jean começa a desconfiar que há algo errado com seu casamento perfeito.
O que achei?
Muita gente tem comparado este filme com um clássico do diretor, Match Point. Mas Golpe de Sorte em Paris tem um certo frescor, talvez providenciado pelo fato de que é feito por atores semidesconhecidos (pelo menos por aqui). É claro, tem todos os temas sempre presentes em seus filmes. Além do adultério, fala sobre controle, investigação e principalmente , sorte. Há a personagem da mãe, feita com um delicioso timing de Woody Allen por Elsa Zylberstein (do charmoso Gemma Bovery- A Vida Imita a Arte). Ela direciona a segunda parte do filme de maneira incrível e eficiente.
A personagem principal, entretanto, feita por Lou de Laage, é uma chata (rs), que durante boa parte do filme me deixou nervosa (é o elo mais fraco da história). O filme é dividido claramente em duas partes. A primeira tem um certo clima de Claude Lelouch, com o reencontro e posterior romance de Fanny e Alain. Na segunda, vemos o que acontece quando Jean descobre tudo. É nessa parte que o filme envereda pelo seu lado Hitchcock, que Allen já usou em tantos de seus filmes.
A produção, obviamente, é de primeira linha. Teve 5 minutos de aplausos quando foi exibida no festival de Veneza. A fotografia irretocável é do veterano Vittorio Storaro. A trilha sonora tem muito jazz, que Woody adora. E claro, Paris. Aqui a cidade não é mais um personagem, como foi em Meia-Noite em Paris, mas sempre dá o tom charmoso para uma história envolvente. E que tem uma divertida reviravolta aos seu final, mostrando que humor de Woody ainda está intacto aos seus 88 anos. Vale ver!