Francis Ford Coppola tem uma vida inigualável. Fez um dos filmes mais admirados da história, O Poderoso Chefão, ganhou vários Oscars. Perdeu todo o seu dinheiro com um filme, O Fundo do Coração. Fez outros filmes brilhantes como Apocalypse Now e Drácula. Ficou afastado da direção por um tempo para, aos 84 anos, vender parte de sua famosa marca de vinhos para fazer o filme que sonhava. Há gravações desde os anos 80 que mostram que já havia uma ideia de fazer Megalópolis, que chega nessa quinta aos cinemas. Sua determinação e empenho de realizar seu sonho são admiráveis. Já o filme é ao mesmo tempo brilhante e ruim, lindo e cheio de problemas. É até difícil escrever sobre ele. Mas, vamos lá…
Primeiramente, vamos falar da história. Coppola, co-autor do roteiro, a chama uma fábula sobre o poder, fazendo um paralelo entre o império romano e os dias atuais. Megalópolis mostra um arquiteto que quer reconstruir a cidade de Nova York como uma utopia após um desastre devastador. Cesar Catilina (Adam Driver) é esse inventor megalomaníaco e egocêntrico que imagina uma metrópole autossustentável que cresce organicamente com seus habitantes. Para dar prosseguimento a seus planos, porém, Cesar precisa navegar pelos interesses de figuras ricas, ambiciosas e corruptas, além de precisar convencer o prefeito de Nova Roma – nome da cidade em evidência – Franklyn Cicero (Giancarlo Esposito) de suas ideias. As coisas ficam ainda mais complicadas quando ele se apaixona pela filha de Cicero, Julia (Nathalie Emmanuel, da franquia Velozes e Furiosos).
O que achei?
Antes de começar a falar sobre meus prós e contras de Megalópolis, é bom ressaltar que Coppola disse claramente que, com sua idade, ele queria fazer o filme que desejava. Inclusive mencionou que vários de seus filmes tiveram uma bilheteria abaixo do esperado – caso, por exemplo, de Apocalypse Now – e foi se pagando com o tempo. Minha opinião sobre o tema é que ele, aos 84 anos, não está nem aí se o filme vai dar lucro ou não, ele simplesmente fez o que queria. Megalopolis já é um desastre de bilheteria. Para recuperar o investimento, precisaria pelo menos render 300 milhões de dólares na bilheteria. Não vai fazer. Até agora o filme rendeu 13 milhões no mundo após estrear em 25 de setembro.
Isso porque é um filme difícil de acompanhar. São 138 minutos de um kitsch enlouquecido. Ele joga ideias, pensamentos , citações históricas, sem nem sequer pretender que siga uma linha de pensamento. Só como exemplo, logo no início do filme, Adam Driver recita um monólogo de Hamlet, sem mais nem menos. É legal, mas o ritmo do filme despenca com isso. E ainda há outras referências clássicas, como Siddhartha, Marco Aurelio, Sappho. Coppola coloca suas ideias com relação ao futuro e presente da humanidade, discute, mas de uma maneira que faz pouco senso. É didático, mas confuso.
Há inúmeras influências. Eu não consegui parar de pensar enquanto assistia em Do Fundo do Coração, com seu visual grandioso. Também o clássico Metrópolis era uma influência sempre presente. De qualquer maneira, Megalópolis é cansativo, mas com momentos de brilhantismo. A fotografia, a cenografia estão entre eles. Há um momento em que estátuas ganham vida, que é especialmente poético. Entretanto, fica claro que em determinadas situações deve ter faltado dinheiro para conseguir um aspecto mais grandioso. Há muitas pontas soltas, alguns personagens e situações são esquecidos no meio do caminho. Até mesmo Cesar, o personagem principal, está desfigurado num determinado momento, e no outro está perfeito, sem um arranhão.
O elenco e a conclusão
O elenco tem resultados diferentes. Adam Driver tenta muito, assim como Nathalie Emmanuel. Mas é difícil de acreditar em seu grande amor, já que eles não tem a menor química. Outros como Laurence Fishburne e Dustin Hoffman aparecem como figurantes de luxo – Laurence pelo menos é o narrador, lendo placas que estão ali mesmo na tela. Jon Voight continua canastrão como acontece desde que envelheceu (e era tão bom quando jovem). Shia LaBeouf está louco e exageradíssimo como ele gosta, e Aubrey Plaza faz o papel de Aubrey Plaza (como sempre). Quem fica acima de tudo e se sai melhor no final é Giancarlo Esposito, como Cicero.
No fim, aviso que Megalópolis não é um filme fácil, tem um monte de problemas. Mas a visão tão própria da vida e do mundo de um gênio como Coppola aos 84 anos, deve ser vista. É claro como Coppola se vê como Cesar, lutando contra tudo e todos. Você vai achar cansativo (e é!), e provavelmente não vai gostar. Mas vale ver.
O filme é dedicado a Eleanor Coppola, esposa do cineasta, que faleceu enquanto o filme estava em pós-produção