Anora ganhou a Palma de Ouro em Cannes e é um dos grandes títulos para o Oscar desse ano. As indicações saem nessa quinta e com certeza o filme conseguirá várias, especialmente filme e atriz para Mikey Madison. Na mesma quinta o filme estreia nos cinemas do Brasil. O filme foi exibido na Mostra de Cinema de São Paulo, e estranhamente acabou não ganhando uma sessão agora para a imprensa. A primeira metade do filme é cansativa. Mas a segunda é brilhante.
Anora (Mikey Madison) é uma dançarina naqueles lugares que tem muito nos EUA, onde a mulher quase nua fica dançando em cima de um cara, mas ele não pode transar com ela (em alguns casos nem tocar – vai entender essas coisas…). Em uma noite aparentemente normal, a garota conhece o jovem herdeiro russo Ivan (Mark Eidelshtein). Os dois se entrosam bem e começam a sair – num primeiro momento ele paga pelo sexo com ela. Mas, depois de uma noitada em Las Vegas, ela impulsivamente aceita casar com ele. Não demora muito para que a notícia se espalhe pela Rússia e logo o seu conto de fadas se vê sob ameaça quando os capangas dos pais de Ivan entram em cena, com o objetivo de anular o casamento. Só que as coisas não serão tão fáceis como os capangas esperavam.
O que achei?
A maior produção do diretor independente Sean Baker, Anora é cheio de homenagens. A mais clara é Uma Linda Mulher, inclusive com momentos muito similares quando Anora e Ivan fecham o negócio para ela ser sua “namorada” por uma semana. Na segunda metade, há uma lembrança de Depois de Horas, quando todos estão em busca de Ivan. E há um pouco de Goddard, outro tanto de Almodovar, nas referências visuais. Confesso que toda a primeira parte, que detalha a relação de Ivan e Anora, leva tempo demais. É cansativo – até me perguntei qual seria a razão de todos esses prêmios.
Só que a partir do momento em que Ivan sai da história, e Anora começa a interagir com os capangas, a coisa chega a um certo brilhantismo. A violência e o drama são o contraponto de um momento seguinte que vai fazer você rir. Toda a sequência dos capangas chegando na casa e tentando dominar Anora é terrível, mas você não consegue parar de rir. Um grande momento em que direção e roteiro se casam perfeitamente para despertar as mais diversas emoções na audiência. Também já aproveito para avisar que o filme tem várias cenas de sexo, nudez e drogas. Ou seja, não é definitivamente uma comédia romântica para a família.
Mikey Madison está muito bem, o que combina com todas as indicações a prêmios que teve. Um grande salto para a atriz da série Better Things ou para a Amber de Pânico (2022). Mas, sinceramente, quem me chamou mais a atenção no elenco foi Yura Borisov, que faz o capanga fofo Igor. Somente com seu olhar (ele tem poucos diálogos) transmite todo o seu pensamento ( e sentimento). Chega a ser incrivelmente apaixonante. Seu momento no final – que , já aviso, é aberto – é sensacional. Ás vezes, um abraço daqueles é tudo o que precisamos. Anora não é bem o que eu esperava (e talvez não seja o que você espera também), mas sua segunda metade vai fazer você sair impressionado do cinema.