Conheço pouco o cinema alemão. Lembro que na época da faculdade era chique falar sobre Berlin Alexanderplatz, que eu achei chatíssimo. Mas depois disso, tive poucas experiências. Por isso, foi interessante ter a oportunidade de assistir dois filmes do país, extremamente diferentes entre si. Duas Irmãs, uma Paixão, estreou no último fim de semana e 14 Estações de Maria, que vai chegar às telas na semana que vem.
O primeiro, Duas Irmãs, uma Paixão, é mais acessível. É um drama histórico sobre duas irmãs, Charlotte e Caroline, que se apaixonam pelo poeta Friedrich Schiller, um badalado homem da noite com um revolucionário ideal republicano. Desafiando as convenções da época, elas decidem compartilhar seu amor pelo jovem escritor. O que começa de uma forma divertida, quase como uma brincadeira, logo fica sério conforme se aproxima o fim do pacto entre os três. Tem um clima de minissérie de TV, mas participou da mostra competitiva do festival de Berlim e foi o representante da Alemanha no Oscar deste ano. É fácil perceber a razão de ter sido escolhido. É uma produção muito bem cuidada, com belos cenários e figurinos. Mas é tradicional e por isso mesmo mais fácil de acompanhar. Eu embarquei na história, estrelada por Henriette Confurius, Hannah Herzsprung e o interessante Florian Stetter como o rapaz que desperta a paixão.
Ele também é um dos atores do outro filme, 14 Estações de Maria. Premiado em Berlim (prêmio do Júri Ecumênico e roteiro), este é bem mais controverso, tem uma linguagem diferente e um roteiro bem forte. Como tem um tema sobre como a religiosidade levada ao extremo pode ocasionar uma tragédia, o filme tem tudo para provocar discussões, seja sobre forma (a divisão em capítulos, a câmera estática) bem como sobre conteúdo.
Maria tem 14 anos de idade e sua família faz parte de uma comunidade católica fundamentalista (ou seja, bem tradicional). Maria vive sua vida cotidiana no mundo moderno, mas ela crê que seu caminho é tornar-se uma santa e ir para o Céu – assim como todas as crianças santas de quem ela sempre ouviu falar nas histórias do padre Weber (Florian Stetter). Então mostra a história da jovem passando por “14 estações”, assim como Jesus, para atingir seu objetivo.
Apesar de mostrar a religião católica, esta é uma história que poderia acontecer em qualquer outra. Em qualquer uma que seja levada ao extremo. É um filme forte, que pode chocar por sua mensagem. Mas depois que você sai da sala de cinema, garanto que vai ser muito difícil esquecê-lo.