Há umas três semanas, meu amigo, o colunista Ovadia Saadia, que o conhecia dos tempos que o ator vivia no Brasil na Boate Regine´s, me disse que Omar Sharif estava muito doente. Ele tinha Alzheimer desde 2012. e hoje, 10 de julho, ele faleceu de um ataque do coração em seu país natal, o Egito. Tinha 83 anos. Pode ser que muita gente hoje não saiba quem ele é, afinal sua última participação numa grande produção foi em 2004, em Mar de Fogo (foto), ao lado de Viggo Mortensen. Mas ele nunca parou de trabalhar. Seu último filme exibido no Brasil é de 2013, Um Castelo na Itália, onde fez uma aparição especial como ele mesmo.
Seja como figura do jet set, ou como um grande jogador de bridge, ele parecia sempre um pouco triste em suas entrevistas. “Eu era um homem solitário vivendo com uma mala em hotéis. Quando você chega em um lugar novo e não conhece ninguém, o único lugar que você pode ir, se é famoso para jantar sozinho, é um cassino. Você vai lá, janta sem ninguém criticando você e então joga um pouco para dar a si mesmo alguma emoção, para lutar contra a chateação de ser você mesmo, para conseguir um pouco de excitação. Isso é tudo.”
O pensamento acima é bem triste. E bem diferente do que os fãs esperariam ouvir do ator que fez tantos personagens memoráveis. Omar nunca foi dos meus atores preferidos. Mas teve momentos que ficaram na história do cinema. Abaixo você pode ver alguns para relembrar:
Depois de fazer vários filmes no Egito, ele estreou em grande estilo no cinema americano com a super-produção Lawrence da Arábia (1962), o clássico dirigido por David Lean. Sua entrada no filme é clássica: no meio do deserto, chegando de preto, em grande contraste com o cenário. Por esse papel, Omar foi indicado ao Oscar e ganhou o Globo de Ouro de coadjuvante.
Depois de alguns outros filmes, mais um grande papel, novamente dirigido por David Lean. Ele foi o Dr. Jivago (1965), um médico e poeta casado, que se apaixona por Lara (Julie Christie), uma mulher também casada, durante o período da primeira guerra e da revolução russa. Ele novamente venceu o Globo de Ouro, dessa vez como melhor ator.
Funny Girl – A Garota Genial (1968) era um veículo para Barbra Streisand, em sua estreia no cinema, como a estrela do teatro, Fanny Brice. Omar era o marido jogador super-charmoso, Nick Arnstein. Ele até canta (e encanta) no papel. Aliás, na época, a imprensa egípcia chegou a pedir que a cidadania de Omar fosse revogada, reclamando do fato de um árabe e uma judia fazerem par romântico. Omar, que na época estava tendo um casinho real com Barbra, falou a frase clássica: “Eu não pergunto a religião de uma mulher quando a beijo”. Adoro!!
Omar tinha o tipo físico perfeito para filmes de época, tanto que logo foi contratado para o papel principal de Mayerling (1968), uma super-produção que contava a história do romance trágico do Príncipe Rudolph, da Áustria, e de sua amante, a baronesa Maria Vetsera (Catherine Deneuve.
Depois veio uma grande mudança de gênero, o faroeste O Ouro de McKenna (1969), com Gregory Peck. Omar fazia o papel de John Colorado, que rapta o xerife McKenna (Peck) porque acredita que ele sabe onde encontrar um carregamento de ouro.
Em Sementes de Tamarindo (1974), dirigido por Blake Edwards, ele fez par romântico com Julie Andrews. Ela era a assistente de um político inglês, que se apaixona por um agente russo (Omar).
Depois do filme-catástrofe, Juggernaut: Inferno em Alto-Mar (1974), a carreira de Omar começou a decair. Fez alguns filmes menores como Inferno Verde (1981) e Benji-O Cachorro Divino (1980) e passou a se dedicar à TV, onde até participou de uma minissérie interessante, Índia: Mistério, Amor e Guerra. Fez também vários filmes na Europa. Minha última lembrança dele é de O 13º Guerreiro, com Antonio Banderas, de 1999.
Uma pena. A última frase de sua autobiografia,que foi publicada pela primeira vez no final do anos 70, é “Na verdade, eu gostaria que hoje fosse como ontem…É pedir demais?”
alfie
10 de julho de 2015 às 6:20 pm
Um texto bonito e emocionante. E com ótimas imagens. Valeu, Eliane