Admiro tremendamente o talento de Roman Polanski como diretor. Alguns de seus filmes estão entre os melhores que já vi em gêneros específicos, como A Dança dos Vampiros, O Bebê de Rosemary, Chinatown e Tess, por exemplo. Hoje, aos 82 anos, ainda demonstra um talento e uma vivacidade incríveis, como pode ser percebido em seu último filme, que estreou esta semana nos cinemas, A Pele de Vênus.
Ele é baseado em uma peça de sucesso, que foi inclusive encenada no Brasil, com Barbara Paz. Depois de um longo dia num teatro parisiense, testando atrizes para a peça que vai dirigir, Thomas está reclamando ao telefone do baixo nível das candidatas. Nenhuma delas tem a firmeza necessária para viver a sua protagonista. Ele está se preparando para sair quando Vanda aparece: um turbilhão de energia incontrolável e despudorado. Vanda personifica tudo aquilo que Thomas odeia. Ela é rude, meio tonta, e fará de tudo para conseguir o papel. Porém, quando Thomas se vê acuado num canto e permite que ela tente sua chance, fica encantado ao vê-la transformada. Vanda não só encontrou o figurino e os objetos certos, como também compreendeu o íntimo da personagem homônima e sabe todas as falas de cor. O teste se estende e se intensifica enquanto a atração de Thomas começa a se transformar em obsessão…
Desde a primeira cena, Polanski e seu talento já nos conquistam com uma câmera que sai da chuva e entra no teatro onde Thomas está ao telefone. Logo depois, vemos a figura de Vanda. Nunca antes pensei que Emanuelle Seigner pudesse se tornar uma atriz tão poderosa, capaz de uma atuação tão forte e cheia de nuances. Com certeza, o papel é um presente para ela, que também está muito bem fisicamente para quem está chegando quase aos 50. O mais chocante, entretanto, é a semelhança do ator principal, Mathieu Amalric, que está também na série Wolf Hall (disponível na Netflix), com o diretor. Olhe bem em determinadas cenas. É realmente impressionante.
O filme é marcante, mas não é fácil. Afinal, o tema da sexualidade mais o seu formato de teatro filmado, dificultam um pouco a compreensão daqueles que estão acostumados somente com produções norte-americanas. Mas é um esforço de se tirar o chapéu para Polanski, que após mais de 50 anos, resolveu voltar a filmar em francês. Parabéns para ele!