Esse foi um período atípico para Steven Spielberg. Em menos de seis meses, estrearam dois filmes dirigidos por ele. Um, que concorreu ao Oscar, The Post, com Meryl Streep e Tom Hanks, e outro, Jogador Número 1, que estreia essa semana nos cinemas, e é baseado no best-seller de Ernest Cline. Os dois filmes apresentam os dois lados da carreira de Spielberg como diretor. Aquele que é capaz de realizar filmes sérios e preocupados com o teor social como A Lista de Schindler e A Cor Púrpura, por exemplo, e em seguida fazer filmes de aventura que atingem o grande público, como E.T. e Jurassic Park. Agora, com The Post e Jogador Número 1, devo dizer que os dois merecem ser vistos.
A história de Jogador Número 1 começa em 2045, com o mundo à beira do caos. As pessoas, entretanto, acabam encontrando refúgio num jogo chamado Oasis. Ele consiste de um universo de realidade virtual, criado por um gênio excêntrico chamado James Halliday (vivido por Mark Rylance em papel oferecido a Gene Wilder). Só que quando ele morre, descobre-se que James deixou sua fortuna, e todo o mundo do Oasis, para a primeira pessoa que conseguir vencer três fases do jogo extremamente difíceis (ou não). Isso dá início a uma competição mundial, que terá entre seus principais jogadores um improvável herói, Wade Watts (Tye Sheridan, o novo Scott de X-Men Apocalipse). Ao lado de seus novos amigos, ele se mostra diferente e conhecedor da história de Halliday, mas também tem que lidar com um grande vilão, um executivo de um grande conglomerado (Ben Mendelsohn, sempre ótimo).
O diferente e mais divertido de tudo na experiência de ver o filme é que ele é uma homenagem a tudo o que diz respeito à cultura pop. O jogo em si é para nerds conhecedores de filmes, séries, desenhos, jogos, livros sobre o assunto. Portanto a todo o momento, você vai vislumbrar referências a filmes como King Kong e O Iluminado (os que tem mais espaço na história), como também O Senhor dos Anéis, Guerra nas Estrelas, De Volta para o Futuro, Robocop, e muito, muito mais. Só que elas são tantas que você não vai conseguir ver tudo numa primeira exibição do filme. Já aviso que terá que ver pelo menos mais umas duas ou três vezes.
Mas a maior referência é de A Fantástica Fábrica de Chocolate. É fácil perceber a razão pela qual Sielberg queria Gene Wilder como Halliday. Afinal, a premissa de um gênio maluco e bem sucedido, que organiza uma competição para que jovens herdem o fantástico universo que ele criou, tem sua raiz na história clássica que se transformou num filme importante da infância de todos. Impossível uma homenagem melhor.
Obviamente, o filme tem alguns altos e baixos. Tem um grande triunfo em seu elenco, mas algumas cenas poderiam ter sido mais rápidas. Mas, é claro que isso é um preciosismo. O filme diverte, e fica com você mesmo um tempo depois de assisti-lo. Mesmo sendo considerado por ele seu terceiro filme mais difícil de fazer – os outros dois foram Tubarão e O Resgate do Soldado Ryan – mais uma vez, Spielberg comprova que não perdeu sua mão para falar com o público jovem. O filme é muito legal!