As estreias de cinema da semana estão realmente musicais. Tem Eu só posso Imaginar, com suas músicas de fundo religioso, as quais eu não conheço. E tem Paraíso Perdido, produção nacional recheada daquelas músicas populares românticas, também conhecidas como músicas bregas. Essas eu conheço várias. Cresci ouvindo caras como José Augusto, Marcio Greyk, Paulo Sergio tocando no rádio em casa. Por isso, para mim, e creio que para a maioria das pessoas da minha geração, Paraíso Perdido, que estreia amanhã nos cinemas, tem um apelo ainda maior. Afinal são mais de 20 músicas desse universo, interpretadas por atores conhecidos, e alguns deles, com um talento inimaginável nessa área.
No filme, o ex-professor de Literatura José (Erasmo Carlos, sim o “Tremendão”), é o dono de uma boate chamada Paraíso Perdido, e também é pai de Angelo (Júlio Andrade) e Eva (Hermila Guedes). Ele tem ainda um filho adotivo, Teylor (Seu Jorge), seu confidente. A família se completa com seus netos Celeste (Julia Konrad), filha de Angelo, e a drag queen Imã, filho de Eva (interpretado pelo cantor e compositor paraense Jaloo, em sua estreia como ator). Para comlementar a trama estão o policial Odair (Lee Taylor), sua mãe, Nádia (Malu Galli), o professor de inglês Pedro (Humberto Carrão), o namorado de Celeste, Joca (Felipe Abib), e a misteriosa Milene (Marjorie Estiano), companheira de Eva no presídio.
Tudo começa após Imã ser salvo pelo policial Odair de uma surra , quando, agradecido, José o contrata para proteger o neto. O policial vivia isolado com a mãe, uma ex-cantora que ficou surda, até entrar em contato com o mundo da Paraíso Perdido. Entre os encontros e desencontros da família, o cantor Angelo lamenta até hoje não ter perdoado a traição de sua mulher, que desapareceu no mundo sem deixar rastros. Apaixonado, ainda não consegue esquecê-la trinta anos depois. Já sua irmã, Eva, está prestes a ser solta após vinte anos na cadeia, por matar o homem que a espancou quando estava grávida de Imã. E ainda Celeste não sabe se leva sua gravidez adiante, enquanto Imã vive idas e vindas com edro. E no meio de tudo isso, José faz de tudo para garantir a felicidade do seu clã e conta com a cumplicidade de Teylor.
Depois de Ó Pai Ó, a diretora Monique Gardenberg já havia dito que estava determinada a fazer um novo filme que também tivesse como tema o universo popular. E, com isso, partindo do princípio de uma mulher que sofre violência doméstica, escreveu o roteiro. Cheio de reviravoltas e revelações no meio do caminho, o filme mantém a atenção todo o tempo. Afinal você logo percebe que há algo por trás dessa história. E tudo isso vem ao som de um dos grandes trunfos do filme, a escolha das músicas de sua trilha sonora, que tem direção musical de Zeca Baleiro, como por exemplo, Tortura de amor, Minhas coisas, 120 150 200 KM por hora, Quem tudo quer nada tem, De que vale ter tudo na vida e Não creio em mais nada.
Só que a fotografia, o figurino e o roteiro com todos os toques de melodrama ajudam a o filme a se tornar um espetáculo delicioso e imperdível. Ao final, mais ou menos como em uma novela ou série de TV, você fica querendo ver mais, saber mais sobre essa família tão amorosa, diferente e especial.
Isso também se deve muito ao trabalho do elenco. Júlio Andrade, conhecido por tantos papéis muito dramáticos, surpreende cantando, assim como a ex-estrela de Malhação, Julia Konrad. Já Seu Jorge, como sempre, é uma delícia de ver, sempre divertido, sempre competente, cantando ou atuando. O filme tem ainda uma outra descoberta, o praticamente desconhecido Jaloo, cujo personagem Imã, me lembrou muito o de Jaye Davidson no filme Traídos pelo Desejo, com sua sexualidade ambígua e seu jeito doce. E, é claro, tem Erasmo Carlos, como o patriarca da história, José. Tem uma presença forte, que ele mesmo diz foi inspirado em Burt Lancaster em O Leopardo. Veja só o que ele falou sobre sua participação no filme.