Graças a Deus, dirigido por François Ozon, um dos maiores nomes do cinema francês, toca em assunto espinhoso. O abuso sexual de crianças por padres da igreja católica já foi tema de diversos filmes. O mais marcante, em minha opinião, é o vencedor do Oscar de melhor filme, Spotlight – Segredos Revelados. A diferença é que Graças a Deus segue a história das vítimas, enquanto Spotlight se concentrava mais no trabalho dos jornalistas. Ambos são filmes fortes, com histórias revoltantes, mas um cinema de primeira categoria. Graças a Deus, vencedor do Grande Prêmio do Júri do Festival de Berlim 2019, estreou nos cinemas essa semana . Vale ser conhecido.
A história
Assim como Spotlight, Graças a Deus também é baseado numa história real. Alexandre Guérin, François Debord e Emmanuel Thomassin foram vítimas do padre Bernard Preynat, da arquidiocese de Lyon, na França. Os três denunciaram os abusos sofridos entre 1986 e 1991, quando eram menores de idade, apenas em 2015. Por meio da criação da associação La Parole Liberée mais de 70 vítimas denunciaram os abusos sofridos. O filme começa contando a história de Alexandre (Melvil Poupaud), que mora em Lyon com sua esposa e filhos. Um dia ele descobre por acaso que o padre que abusou dele quando era escoteiro ainda está trabalhando com crianças. Ele decide agir e logo se juntam a ele duas outras vítimas do padre, François (Denis Ménochet) e Emmanuel (Swann Arlaud). Eles se unem para “levantar o fardo do silêncio” a respeito dessa experiência dolorosa. Mas as repercussões e consequências não deixarão ninguém ileso.
O que o filme mostra…
Através de uma trama praticamente dividida em episódios, ficamos conhecendo a história dos três, e especialmente o posicionamento da igreja católica francesa com relação a tudo o que aconteceu. O filme não mostra as cenas do abuso, e nem é necessário. A situação é revoltante mesmo sem ver nada. O filme se concentra em mostrar como aquelas experiências de criança afetaram a todos eles – uns mais que outros, claro. Além disso, deixa também claro que houve problemas entre as vítimas, dentro da associação no meio do caminho. Alguns contaram com o apoio das famílias, outros não. Com esse panorama, o filme questiona posições, e deixa claro que há ainda um longo caminho para que esse tipo de situação deixe de acontecer dentro da igreja.
Ozon falou sobre isso em uma entrevista recente. “Mostrei o filme a um padre que disse: ‘Este filme poderia ser uma oportunidade para a Igreja. Se o considerarem, talvez ela finalmente assuma a responsabilidade pela pedofilia em seu meio e combata essa praga de uma vez por todas.’ Espero que sim”, finaliza o diretor.
Fotos de divulgação