Há alguns filmes que você reconhece como ótimos, mas que nunca mais quer ver na vida. É que eles são extremamente incômodos – e por isso tão eficientes. Mostram de uma maneira certeira que o mundo precisa realmente de um reboot, fazendo você se sentir mal . Isso já havia acontecido comigo antes, com o vencedor do Oscar de filme estrangeiro pela Hungria, O Filho de Saul. E aconteceu novamente com o filme libanês que estreou essa semana nos cinemas, Cafarnaum.
O filme é ótimo, super bem filmado, com uma história poderosa. Você fica envolvido do início ao fim. A revolta e a tristeza tomam conta durante todo o tempo. Uma história triste. Mas ainda mais marcante porque tudo que acontece é baseado em histórias verdadeiras. São coisas que a diretora Nadine Labaki (do interessante O Preço da Fama) vivenciou. Ela percorreu vários lugares que sofriam com a pobreza para pesquisa. E o resultado foi uma história que não vai deixar você indiferente.
A história
Aos doze anos, Zain (Zain Al Rafeea) carrega uma série de responsabilidades. Por exemplo, é ele quem cuida de seus irmãos no cortiço em que vive junto com os pais, que estão sempre ausentes. Só que quando sua irmã de onze anos é forçada a se casar com um homem mais velho, o menino fica extremamente revoltado e decide deixar a família. Ele passa então a viver nas ruas. Anda junto aos refugiados e outras crianças que, diferentemente dele, não chegaram lá por conta própria. É então que ele faz amizade com uma ex-prostituta, que é imigrante ilegal, e tem um filho pequeno. Isso mudará sua vida.
O filme ganhou o prêmio do júri no Festival de Cannes, e é o indicado do Líbano para o Oscar de filme estrangeiro. Foi indicado na mesma categoria para o BAFTA e para o Globo de Ouro. As indicações ao Oscar saem na próxima terça , dia 22, e é quase certeza que o filme estará entre os finalistas. Só para relembrar, ele também foi o vencedor do prêmio do público da Mostra de Cinema de São Paulo.
As crianças
Então se você gosta de filmes profundos e incômodos, não deve perder essa aula de cinema. E preste atenção nos dois meninos. Zain (Zain Al Rafea, que era um refugiado sírio na vida real) e Boluwatife Treasure Bankole, que na verdade é uma menina, e faz o papel de Yonas, o bebê. Ela também era uma refugiada. São simplesmente sensacionais, um arraso.