Há uma tendência recente de diretores querendo contar histórias autobiográficas sobre sua infância. Vários saíram recentemente. Entre os recentes, me lembro do excelente Belfast (Kenneth Branagh) e do chato A Mão de Deus (Paolo Sorrentino), este último disponível na Netflix. Steven Spielberg vai pelo mesmo caminho com Os Fabelmans, que provavelmente estará na Temporada de Premiações. E agora, estreia hoje (10) no cinema Armageddon Time, de James Gray. Já aviso que, apesar do nome, não tem nada a ver com ficção-científica.
A produção é do brasileiro Rodrigo Teixeira. Conta a história de uma família que vive no Queens, Nova York, nos anos 1980. Mais ou menos antes de Ronald Reagan ser eleito presidente dos Estados Unidos. Tudo é centrado no filho caçula, Paul, que deseja ser artista, e fica amigo do único garoto negro de sua classe. A ideia é traçar uma trajetória de amadurecimento. A história do filme é baseada na infância do diretor e roteirista, com uma trama sobre lealdade e amizade. E fala ainda de racismo e preconceito.
O que achei do filme?
Armageddon Time mescla situações reais com fictícias. Difícil é saber o que é real e o que é fictício. Será que James Gray era tão insuportável quanto Paul? Será que realmente a família Trump cruzou seu caminho na escola em que estudava? Tem uma participação bem surpreendente – numa única cena – como a irmã de Donald ( #semspoiler). De qualquer maneira, o filme deixa pouca chance de empatia com os personagens. Desde os pais, passando pelos agregados, até as crianças. E não é falta dos atores. Há aqui um destaque óbvio para Anthony Hopkins como o avô de Paul. A cena do parque é um ponto alto do filme. E também para Anne Hathaway. Ela faz a mãe sofrida por não saber lidar com certas situações. Mas no final acaba sendo praticamente deixada de lado, e o roteiro se ressente disso.
A sensação que fica é que você já viu esse tipo de história vezes demais. Toda hora me vinha à cabeça The Tender Bar, o filme do mesmo gênero bem superior com Ben Affleck (disponível na Prime Vídeo). A diferença é que aqui você não consegue se envolver ou se importar com os personagens. Mesmo o final de Paul parece forçado e improvável. E mesmo com tanto talento envolvido, falta vida à infância de James Gray. Mais ou menos como aconteceu com sua incursão pela ficção-científica, em Ad Astra. Não comove e não funciona.