Eu sempre fico feliz quando um filme me surpreende. Depois que você assiste tantos filmes como eu, é difícil se surpreender com alguma coisa. Especialmente quando você pensa no cinema de Hollywood tão comprometido com formatos que já funcionaram em algum momento. O filme que me surpreendeu no caso é A Substância, com Demi Moore, que estreia nessa quinta nos cinemas. É um dos filmes mais chocantes e assustadores que vi nos últimos tempos.
Elizabeth é uma celebridade que enfrenta uma reviravolta inesperada ao ser demitida de seu programa fitness na televisão no dia do seu aniversário de 50 anos. Desesperada por um novo começo, ela decide experimentar uma droga do mercado negro que promete replicar suas células, criando temporariamente uma versão mais jovem e aprimorada de si mesma. Agora, a atriz se vê dividida entre suas duas versões, que devem coexistir enquanto navegam pelos desafios da fama e da identidade. Ele gera outro você. Um você novo, mais jovem, mais bonito, mais perfeito. E há apenas uma regra: vocês dividem o tempo. Uma semana para você. Uma semana para o novo você. Sete dias para cada um. Um equilíbrio perfeito. Fácil, certo? #sóquenão
O que achei?
A Substância lida com um assunto que está na moda, o culto à juventude, a necessidade da mulher de aparecer sempre jovem. É impossível não lembrar do cinema de David Cronenberg, com as cenas grotescas e de violência. As cenas da tirada do líquido da espinha são as mais aterradoras para mim. E há muitas delas – se você tem problemas com cenas nojentas, passe longe do filme. Mas há vários prós. O filme ganhou o prêmio de melhor roteiro no Festival de Cannes. Consegue misturar efetivamente, o terror, o drama e até a comédia (especialmente com o personagem gosmento de Dennis Quaid, em papel que seria de Ray Liotta). É perturbador em suas críticas comportamentais, é mais assustador do que qualquer filme de terror que você tenha visto recentemente.
Além disso, A Substância é visualmente excepcional, contando com uma paleta de cores e direção de arte impecáveis. Estas enfatizam o ambiente opressivo do filme, bem como o aspecto artificial e plástico da indústria de Hollywood. Mas, é claro, o filme depende muito das duas atrizes. Juntas, elas pintam um retrato complexo de uma mulher em guerra com si mesma pelo controle de sua própria vida. Margaret Qualley, apesar de não ser tão bonita como Demi Moore era na juventude, funciona como Sue, a versão mais jovem de Elizabeth. Seu olhar é vazio, e sua doçura e violência são extremamente críveis. Mas o filme pertence à Demi Moore. Ela está simplesmente sensacional como atriz, e também imensamente corajosa mostrando rugas e com nudez total. Além disso, tem uma atuação primorosa, que transmite uma angústia sem limites. Muita gente inclusive fala dela como possível candidata ao Oscar. Se isso acontecer, vou aplaudir de pé.
Curiosidade
Para quem não sabe, Margaret Qualley é filha de Andie MacDowell. Andie e Demi estrelaram juntas um de meus filmes da vida, O Primeiro Ano do Resto de Nossas Vidas.